Neste final de semana, enquanto famílias se reúnem para celebrar o Natal na noite de véspera, alguns profissionais seguem trabalhando em plantões. É uma realidade para muitos trabalhadores que devem garantir a normalidade em atendimentos e serviços em áreas como segurança e saúde. A responsabilidade das funções não impede, no entanto, que a data passe batida.
É o que ocorre na base operacional da CCR Via Sul, na praça de pedágio em Gravataí. O espaço para os funcionários da CCR conta com uma singela decoração de Natal e uma árvore com presentinhos. A ceia é fornecida pela empresa em cada turno de trabalho, mas a confraternização com doces e decoração natalina fica por conta dos colaboradores.
Claudia Medeiros, 47 anos, arrecadadora de pedágio, é uma das que coordena o grupo do turno da noite para fazer uma celebração entre os intervalos.
– Não deixa de ser um segundo lar. Passamos mais tempo aqui do que em casa, então nos organizamos. Fazemos uma integração entre os funcionários, cada um traz um prato – detalha a profissional, que trabalha há cinco anos no local.
Dias antes do Natal, a equipe se reuniu fora do trabalho para trocar presentes.
– Sou a pessoa que organiza, que marca o amigo secreto, que marca uma janta mesmo sem ter um motivo – conta.
Folga no Réveillon
Segundo ela, a família entende como funcionam os plantões e, em poucos dias, tem a folga de Réveillon para passar com os familiares – se não for convocada para reforço devido ao movimento intenso.
Questionada se trocaria o turno da noite pelo dia, Claudia admite:
– Eu amo trabalhar à noite, sou noturna. De dia é mais calor e tem mais fluxo. Gosto da calmaria da noite.
Na madrugada, Claudia afirma que o clima é bom no diálogo rápido com os usuários da rodovia:
– Percebo que quem passa na estrada está mais receptivo, tem gente que quer até nos dar presente. Teve um usuário que ofereceu balas e eu disse que não poderia aceitar, então ele jogou o pacote pra dentro da cabine.
Comemoração na sala de descompressão
Dulce Ines Welter, 50 anos, é mais uma profissional que estará de plantão no Natal. Enquanto o mundo comemora, a enfermeira estará no Centro de Terapia Intensiva Adulto do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Com 30 anos de carreira, ela conta que sempre preferiu o trabalho noturno.
– Todos esses anos, ou trabalho no Natal ou no Ano-Novo – destaca.
Por ser uma área onde ficam pacientes em estado crítico, a decoração de Natal, com luzes e enfeites, fica só para o dia da integração, para evitar qualquer risco de contaminação. Mas na véspera é organizada uma ceia completa, segundo Dulce.
– Colocamos as toucas de Papai Noel, distribuímos presentinhos para os funcionários e fazemos uma ceia. Normalmente, organizamos uma ceia de verdade, com peru e arroz à grega, na sala de descompressão (que é uma sala de convivência) onde tem uma mesa grande – detalha.
A enfermeira recorda que já aconteceram várias situações inusitadas com pacientes que se emocionam.
– Uns até demais – comenta.
Pandemia
Mas, para ela, o mais marcante nesta época do ano foi no período de auge da pandemia:
– A lembrança mais marcante desta época é do ano de 2020 para 2021. Pandemia, todos esgotados e os familiares privados da visita. Naquele ano, a gente se puxou bastante. Nos unimos e criamos um grupo. Passamos em todos os leitos da UTI cantando músicas natalinas, com violão e voz. Foi emocionante.
Em casa, ela organiza o possível para o Natal do marido e do enteado. Na virada, os dois passam com familiares, mas o dia 25 é na companhia de Dulce.
– A gente sai de casa com o coração partido, mesmo sem ter filhos pequenos. Deixamos nossa família nesses dias importantes, justo no Natal, quando existe essa simbologia da união. Mas, ao mesmo tempo, passamos com outras pessoas que muitas vezes estão lúcidas e que estão distantes da família não por opção, que são os pacientes. Na virada da noite, eles ficam sozinhos na UTI. Além disso, trabalhamos com as mesmas pessoas há muitos anos, nos tornamos uma família – finaliza Dulce.