A chuva intensa que atingiu a região do Vale do Taquari no início de setembro deixou um rastro de destruição contabilizado até agora. Moradores de diversos municípios perderam casa e móveis em decorrência da enxurrada. É o caso de José Carlos Zerwes, de Roca Sales. Durante a tempestade, na madrugada do dia 6, ele buscou abrigo na casa de um vizinho, como relatou ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha.
Ao contabilizar as perdas e a necessidade de reconstruir a residência, ele e a esposa decidiram cortar custos. E uma saída foi anunciar a vender da égua Shakira. O casal não contava, no entanto, com um gesto de solidariedade: a família recebeu uma proposta inusitada, com o comprador aceitando pagar o valor desde que Zerwes ficasse com a égua.
Além disso, o "novo dono" da égua repassou mais R$ 1 mil para outros custos com Shakira. Sensibilizado com o gesto nobre, Zerwes aceitou a oferta.
— Tinha optado por vender minha égua para diminuir custos. Não é nem pelo valor que ia arrecadar com ela, porque é baixo. É uma égua não documentada, já tem idade e não valeria muito pelo valor financeiro, mas pela manutenção dela, que custa R$ 250 por mês. No momento é bastante — disse, em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, de quarta-feira (27).
A manutenção de Shakira na família também carrega outro simbolismo. Durante anos ela participou da celebração de Natal na cidade.
— Ela é presença constante no Natal. Durante as cavalgadas, ela levava o Papai Noel. Na véspera de Natal, tinha um grupo de amigos que juntava bala. E eu a emprestava para o Papai Noel distribuir balas pela cidade — afirma.
Perdas
Apesar do susto, ele afirma que a família teve apenas perdas materiais, enquanto muita gente perdeu amigos e parentes.
— A gente perdeu a casa, outros perderam alguém da família. Garanto que essa gente que perdeu alguém da família trocava tudo que eu perdi para ter essa pessoa de volta — destaca.
No dia da chuva, Zerwes diz que a água tomou conta da casa rapidamente.
— A gente sempre se preparava, tirava parte dos móveis. Uma parte a gente erguia, só que veio muito rápido a enchente. A gente geralmente levava a casa para um vizinho, que ficava numa rua acima, porque lá nunca tinha alagado. A gente levou tudo, a maior parte dos móveis, só que a acabou alagando também — frisa.
Da janela do segundo piso da casa do vizinho, eles observavam outras pessoas buscando refúgio em cima do telhado durante a chuva. Alguns, inclusive, pedindo por socorro dentro dos forros das casas.
— A correnteza era muito forte, não tinha como socorrer alguém durante a noite. Então foi triste — relembra.
Conforme Zerwes, três senhoras buscaram abrigo em cima do telhado de uma casa e amarraram um senhor cadeirante com um lençol em cima de um colchão.
— Durante a noite, uma senhora me ligou e disse que achava que o senhor tinha morrido. No outro dia de manhã, por volta de 10h, quando foram resgatados, viram que ele estava vivo e tinha um cachorrinho encostado no pescoço dele, que acabou o esquentando — destaca, acrescentando que o homem está bem.