O Censo Demográfico 2022 teve os primeiros dados divulgados nesta quarta-feira (28), com atraso nunca enfrentando pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com a repercussão dos dados - que apontaram menor crescimento populacional do que o esperado -pessoas relatam não terem sido entrevistadas pelos recenseadores durante o período das entrevistas e, com isso, questionam o resultado.
Coordenador operacional do Censo no Rio Grande do Sul, Luís Eduardo Puchalski diz que a grande maioria da população respondeu ao Censo, o que torna o índice bastante "considerável". Segundo ele, o percentual de domicílios nos quais não foi realizada a entrevista é de 2,4%.
— Em parte porque não temos informações do recenseador, outra porque nós não conseguimos em momento algum localizar o morador naquele determinado domicílio, muito embora o recenseador tenha, na maioria desses casos visitado por diversas vezes. Em alguns casos até mais de 10, 15 vezes o domicílio para tentar encontrar esse morador — argumenta Puchalski.
Essa taxa de resposta é suficiente para a operação censitária, garante Puchalski. O percentual de não resposta é um pouco maior que o registrado em 2010, mas, segundo o coordenador, não compromete de forma nenhuma a qualidade do resultado do que o IBGE está divulgando.
Dificuldades na coleta dos dados
O aumento da taxa de não resposta se deu, na avaliação do gestor, pela questão da insegurança da população em acreditar nos pesquisadores. Mesmo o IBGE oferecendo ferramentas de verificação para a população se certificar que era um recenseador, muitas desconfiavam e não forneciam as informações. A sensação de insegurança foi mais notada nos centros urbanos maiores.
Essa dificuldades impactou nos prazos do Censo. Previsto para ter a coleta encerrada em agosto de 2022, o término das visitas só se deu em abril deste ano. Já a divulgação do levantamento, esperada para outubro de 2022, só ocorreu nesta quarta.
No RS, o IBGE ultrapassou o percentual mínimo de 97% de respostas em todos os municípios, restando "bolsões" em localidades específicas das cidades. Mais de 11 mil recenseadores participaram do Censo no RS — no Brasil, foram 180 mil.
— Tivemos uma sensação de insegurança principalmente nos grandes centros urbanos e é justamente nessas áreas onde a gente teve uma taxa de não resposta mais significativa. Se compararmos a municípios pequenos, muitos deles inclusive no Rio Grande do Sul, nós tivemos 100% de resposta, ou seja, nenhum domicílio deixou de responder ao Censo— conta.
O Censo 2022 teve uma central telefônica exclusiva para esclarecer as dúvidas da população durante a coleta domiciliar. O Centro de Apoio ao Censo (CAC), disponível via 0800 721 8181, contou com 180 agentes censitários para auxiliar a sociedade a preencher o questionário via internet ou telefone. No entanto, essas duas modalidades somadas em nível Brasil, ficam em torno de 1% do total de respostas.
— A forma mais tradicional, do entrevistador visitar o domicílio fazendo a entrevista presencialmente, representa praticamente 99% dos questionários coletados— diz o coordenador.
Puchalski comenta ainda que, com a dificuldade para contratar recenseadores, nunca conseguiram trabalhar com a equipe do tamanho que julgavam necessária. Além disso, foi constatado um aumento no número de domicílios em comparação com o Censo de 2010. No Rio Grande do Sul houve elevação de 25% no número de domicílios visitados.
Pandemia e falta de orçamento causaram adiamentos
Feito pela última vez em 2010, a 13ª edição do levantamento nacional deveria ter sido realizada em 2020, mas acabou prorrogada por conta da pandemia de coronavírus. Além da crise sanitária, ainda houve o impasse orçamentário com o governo federal.
O levantamento anterior foi realizado em 2010 e, de lá pra cá, o instituto realizava projeções para estimar o tamanho da população brasileira. Em maio de 2022, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu em plenário que o governo federal tem obrigação de realizar o Censo Demográfico.
— Programamos um Censo para terminar a coleta em três meses e acabamos terminando em dois anos, mas isso de forma alguma impactou a qualidade dos resultados. Temos imagens de satélite com todas as coordenadas geográficas de cada unidade de domicílios visitados pelos recenseadores, o que nos garante através da análise dessas imagens que houve uma cobertura perfeita do resultado. Infelizmente de uma pequena parcela não conseguimos obter a resposta do questionário, mas isso de forma alguma compromete os resultados— finaliza Luís Eduardo Puchalski.