A constelação familiar, que está disponível no SUS e é usada por parte da Justiça, mas é muito criticada pelo Conselho Federal de Psicologia, pode ser feita em grupo ou de forma individual. Na abordagem individual, o constelando (o paciente) trabalha apenas com o facilitador, em geral com o uso de bonecos ou outros objetos que representem o sistema familiar.
É uma versão “compacta” do que é feito do formato coletivo (leia abaixo os detalhes). Em ambas, o constelador coleta informações sobre o contexto da família do paciente: pais, avós, irmãos, outros membros, além de dados sobre relacionamentos, momentos importantes ou eventos traumáticos na vida da pessoa.
Bruna Mena Bueno, 33 anos, buscou a terapia por orientação de um médico que atua com medicina integrativa. A jornalista relata que, por uma questão de saúde, teve de passar por um processo de emagrecimento.
No entanto, por algum motivo, não conseguia mais perder peso. A dificuldade, disse o médico, poderia ter origem psicológica, ainda que Bruna frequente a terapia tradicional desde 2019.
No início, a orientação para buscar foi recebida com ceticismo:
– Eu tinha esse preconceito de que só faz constelação quem tem problema na família, e eu não tinha, mas resolvi fazer para ver o que aconteceria.
A moradora de Porto Alegre pesquisou sobre o tema e marcou uma sessão individual em agosto de 2022, com bonecos. Segundo ela, o trabalho não lhe mostrou “problemas” na família, mas foi capaz de auxiliar na identificação de outra dificuldade:
– Vi que eu estava repetindo um padrão que era da minha bisavó, da minha avó e da minha mãe, que era a questão da perfeição. Eu tinha este comportamento: se tirava 10 no colégio, não era mais do que obrigação. Se tirava nove, podia ter tirado 10, sabe? Eu ficava mal se as coisas não saíssem do melhor jeito. E hoje eu não tenho mais esse perfil. Se não deu certo, tudo bem, tentamos na próxima.
No modo coletivo, pessoas se reúnem em um espaço ou pela internet com um facilitador (também chamado constelador), que guia o processo. ZH acompanhou o trabalho em grupo no dia 23 de março: sete pessoas participaram da constelação feita pela psicóloga Bianca Lemos, na zona norte da Capital.
A constelanda foi Denise de Paula, 41 anos, que faz o segundo tratamento contra um câncer de mama. Com o trabalho em grupo, ela queria entender o motivo do aparecimento da mesma doença em um curto espaço de tempo entre um diagnóstico e outro. No início, em conversa à parte, Denise contou detalhes pessoais à psicóloga, que anotou as informações em um caderno. Depois, as duas voltaram à sala onde a constelação seria feita. Outras sete pessoas estavam na sala; nem todas conheciam a constelanda.
O sistema familiar foi formado por pessoas convidadas por Denise: elas representavam a família da constelanda, que acompanhou o desenvolvimento da sessão sentada em uma cadeira, como uma observadora. Ela, portanto, não “participou” da dinâmica do grupo, apenas assistiu e interagiu com Bianca.
Na sessão, nenhuma pessoa do grupo sabia quem representaria no sistema familiar de Denise. A terapia em grupo se desenvolveu com diálogos entre os participantes, que relatavam sensações como mal-estar, ânsia, indiferença, medo, dor de cabeça, em interações mediadas pela consteladora, que buscava identificar os “emaranhados” no sistema familiar. Esse momento, para a constelação familiar, foi o período em que as energias dos familiares de Denise foram “captadas” – como se cada um fosse uma antena – pelos integrantes da sessão.
Para a terapia, com a energia na sala, os integrantes revelavam traços, trejeitos e comportamentos do círculo familiar da constelanda. Isso causou choros, abraços, momentos de afastamento e de proximidade entre eles, acompanhado por Denise e Bianca, como uma busca por respostas sobre qual “nó” prejudicava a saúde da constelanda. Até o câncer teve lugar na sessão: foi representado por uma mulher.
– Eu escolho viver, ser diferente de tudo que foi: deixo as dores do passado e tudo que não me fortalece – disse ao fim a psicóloga.
Denise, que é terapeuta, afirma que a constelação foi capaz de lhe dar respostas sobre a origem dos dois cânceres:
– Foi pela mágoa de eu não ter pai presente na minha vida e pela mágoa de me sentir o tempo inteiro julgada pela minha mãe, que me deixou ser criada pela minha avó, e também por ela não estar presente na minha vida.