O governo estadual avalia a criação de um selo pet friendly que será concedido a estabelecimentos comerciais que respeitarem regras relacionadas ao bem-estar de animais domésticos. O objetivo é facilitar que turistas encontrem espaços adequados para receber pets durante a hospedagem dos tutores.
A informação foi confirmada pelo secretário-adjunto da Secretaria de Turismo, Luiz Fernando Rodriguez, à reportagem de GZH nesta quinta-feira (30). Segundo ele, a ideia do certificado teve origem na necessidade de melhorar o acesso à informação a pessoas que costumam viajar com animais no Estado. O trabalho é feito com a ajuda especialistas, empresários, setor do turismo e entidades, esclarece Rodriguez:
— Nosso foco primário é a questão dos hotéis. A ideia é que se formate condições mínimas para estabelecer que determinado local possa ser considerado como amigável aos animais. Quando tivermos essa regulamentação, o turista terá certeza de que vai encontrar os serviços, e o hotel a certeza de que vai atrair turistas. É bom para todo mundo.
Segundo o secretário-adjunto, a pasta identificou que pessoas que viajam com animais tendem a gastar mais devido ao valor extra normalmente pago pela presença do pet. Assim, além do bem-estar, a adoção do selo pode ajudar o estabelecimento comercial a atrair clientes com o perfil almejado.
Rodriguez relata que ainda é discutida como será feita a regulamentação do selo; por isso, não trabalha com prazos para a disponibilização do material. No entanto, ele assegura que as regras definidas para a obtenção do certificado serão básicas.
— Tem que ter bebedouro, tapete, sinalização, tem que ter uma ala onde não vá atrapalhar os demais hóspedes se o cachorro latir. São questões mínimas, de bem-estar, de saúde animal, adaptações que podem ser feitas pelo estabelecimento sem prejuízo às pessoas que não levam animais — explica.
O secretário-adjunto esclarece que os estabelecimentos não serão obrigados a aderir às regras: o selo funcionará como uma espécie de indicação do Estado ao ambiente favorável para levar um pet. Ele acrescenta, também, que as regras sanitárias serão normalmente seguidas com a iniciativa.
— A concessão do selo vai significar que o estabelecimentos terá uma declaração pública de que têm os requisitos essenciais — resume.
O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV-RS) também participa das discussões sobre a criação do selo. Segundo Mauro Moreira, presidente da entidade, a iniciativa é importante para definir o que um espaço deve oferecer para que seja definido como um local receptivo a animais, concepção que, no entendimento dele, é vaga atualmente.
— Hoje há no mercado selos que não têm um conceito elaborado do que é ser pet friendly. E quando não temos um conceito, podemos correr riscos e até levar um animal à morte. Não adianta apenas vender um serviço para o qual não existe uma regulamentação. Então, é de total importância que o Rio Grande do Sul tenha essa certificação — diz.
No RS não há hoje legislação que determine o que é um espaço pet friendly e quais regras um estabelecimento deve seguir para assim se declarar. Os estabelecimentos têm de respeitar as leis sanitárias dos municípios e do Estado.
A portaria estadual número 78, de 2009, é importante nesse assunto, ao proibir a presença de animais em áreas internas e externas de estabelecimentos de serviços de alimentação. Porto Alegre, por exemplo, na lei complementar número 904, de 2021, determina que os estabelecimentos comerciais, como shoppings e lojas, que permitam aos clientes a permanência e a condução de animais de estimação, devem informar o fato por meio de placas indicativas, em especial nas entradas.
Como é na prática
Os hotéis não têm uma lei como base para implementar uma política pet friendly. Os estabelecimentos seguem a legislação sanitária do Estado e do município onde está instalado. Exemplo de um trabalho assim é feito pelo Sesc-RS que tem, desde 2017, dois hotéis pet friendly no Rio Grande do Sul: em Torres, no Litoral Norte, e em Gramado, na Serra.
Nos dois prédios, o primeiro andar é reservado para quem se hospeda com animais, que ficam distantes dos que não têm pet. Além disso, há 14 regras que devem ser seguidas por quem quer ficar no espaço.
Entre elas: só aceita receber cães e gatos com até 12 quilos, no máximo dois pets por apartamento e a proibição da permanência dos animais em áreas sociais, de lazer e alimentação. Por não haver uma legislação específica sobre o que um hotel pet friendly deve oferecer, a administração teve que tratar o assunto internamente para a implementação.
— Elaboramos tudo isso (as regras) pensando no conforto do pet e do cliente. Como não tem nenhuma regulamentação, foi feita uma discussão com os diretores dos hotéis e os subgerentes, pensando o que a gente imaginava que seria interessante — diz Cintia Guske, coordenadora de Turismo do Sesc-RS.
Segundo Cintia, os dois hotéis exigem que os tutores apresentem a carteira de vacinação do pet que ficará no local. Isso, por vezes, gera desconforto com os clientes:
— Explicamos que é por segurança do pet, que com a vacinação estão todos protegidos de alguma doença.
Os dois hotéis do Sesc cobram taxa diária de R$ 50 por pet.
Em busca de locais para levar o pet
Mírian Miorelli, 45 anos, estava com a shih-tzu Maya, na tarde de quinta-feira (30), no Pet Place, Shopping Praia de Belas, em Porto Alegre. O espaço é uma oportunidade para quem circula pelas lojas e quer oferecer ao animal um ambiente preparado para o lazer ou descanso do pet.
— Hoje em dia, estamos inserindo cada vez mais nossos pets em nossa rotina: levamos para o shopping, para tudo quanto é local. É o conceito de família multiespécie, de inserir o pet como membro. Nossas ações também são pensadas a partir deles — diz.
Para sair com a cachorra, Mírian diz procurar previamente por espaços que sejam pet friendly na Capital e também no caso de viagens mais distantes. Ela cita um exemplo da Serra como uma região amigável aos animais domésticos. No entanto, relata encontrar dificuldades ao notar que a promessa inicial de acolher o animal no estabelecimento não se cumpre na prática, por vezes:
— Gramado está super bom de viajar e de levar o pet, mas no dia a dia não é assim. Vejo que muitos locais se dizem (pet friendly) e não são. Às vezes, é uma caixinha de surpresa: chega lá e não é nada pet friendly.
A busca por locais pet friendly fez Patricia Camargo criar o Eu, Você e os Pets em 2016. O canal está presente em diversas plataformas digitais, nas quais ela e o marido compartilham a rotina de viagens com dois “dogs influencers”, Armandinho e Nina. O objetivo é indicar aos tutores aonde ir com os animais domésticos e divulgar informações do mundo pet. Para Patricia, a definição do que é um ambiente pet friendly é simples:
— É um lugar onde os pets realmente são bem-vindos, onde é pensado no bem-estar, conforto e segurança. É um local preparado para receber, com uma equipe treinada.
Com o conhecimento das viagens, Patricia começou dar consultoria sobre o assunto para quem quer se adequar às boas práticas do pet friendly e mesmo cidades que buscam atrair turistas que viajam com animais domésticos.
— As pessoas querem entrar na onda, mas não entendem exatamente o que é isso. E aí vieram os "pet friendly fakes". Existe falta de informação, de entendimento e falta de vontade também. Por isso, empresas e prefeituras começaram a procurar pessoas que entendessem desse assunto, para poder melhorar esse serviço, esse atendimento. Ainda tem muita coisa para ser ajustada — pontua.