Em atividade dentro da programação do South Summit, a Secretaria de Turismo do Rio Grande do Sul (Setur) realizou na manhã desta quinta-feira (30) no Instituto Caldeira, em Porto Alegre, um painel que abordou a capacidade de inovar no setor. O encontro contou com a participação do português Roberto Antunes, diretor executivo do Centro de Inovação do Turismo, de Portugal.
Também foi o momento para a Setur lançar a plataforma Business Intelligence (BI), criada para sistematizar dados sobre turismo no Estado, conferindo informações relevantes tanto para o setor público quanto para as empresas.
A ferramenta, chamada BI do Turismo, está disponível no site da pasta e reúne dados quantitativos e qualitativos sobre a abertura de empresas de turismo, o fluxo de passageiros com destino ao Estado, o perfil dos viajantes que chegam aqui e o Produto Interno Bruto (PIB) do turismo. No Rio Grande do Sul, o PIB do turismo, sem os impostos, é de R$ 14 bilhões, de acordo com levantamento de 2019.
Segundo o secretário-adjunto da Setur, Luiz Fernando Rodriguez Júnior, a plataforma vai contribuir na elaboração de estratégias mais eficazes para o setor turístico.
— Nosso BI vai organizar dados e informações que vão permitir a tomada de decisões inteligentes, lógicas e fundamentadas para os núcleos de turismo dentro do Rio Grande do Sul. Ninguém pode decidir bem sem dados que permitam uma análise concreta do cenário econômico, social e de turismo — diz Rodriguez.
Economista da Setur, Antônio Pedro da Costa e Silva Lima disse que o BI do Turismo também permitirá analisar a contribuição de cada região para o turismo. Reunindo todas essas informações, será possível ter um cenário mais preciso sobre o fluxo de turistas e como essa economia se desenvolve no Estado.
— Saberemos quais regiões estão crescendo mais, quais estão tendo menor representação, quantos passageiros estão vindo pelos aeroportos do Estado. Agregando dados, conseguimos entender exatamente quem vem para cá, quanto gasta, e, a partir daí, fazer políticas sem ser na base do feeling, mas na base de dados específicos — reforça.
Inspiração de Portugal
O BI do Turismo foi inspirado em uma plataforma de dados de turismo de Portugal, a Travel BI. O país lusitano tornou-se um dos destinos mais procurados e hoje desponta como a 12ª maior economia de turismo do mundo, segundo Roberto Antunes, diretor executivo do Centro de Inovação do Turismo (Nest), um projeto criado para fomentar o setor e que colabora com o governo português e também atua em parceria com a iniciativa privada.
O turismo do futuro é genuíno, com história para contar. Se for banal e padronizado, compete com outros que oferecem o mesmo
ROBERTO ANTUNES
Diretor executivo do Centro de Inovação do Turismo
— Em 2019, o turismo em Portugal gerou 18 bilhões de euros, representando cerca de 15% do PIB. Em 2022, ainda com parte da pandemia, não imaginávamos que iríamos ultrapassar esse recorde de 2019 e atingir 22 bilhões de euros. Tivemos um turismo que gerou mais valor, que gerou mais qualidade, e ajudou na recuperação da crise — disse Antunes, durante o painel da Setur no Instituto Caldeira.
Segundo o português, a razão para o crescimento do setor mesmo durante a pandemia foi o investimento na marca do país como um destino turístico.
— Nunca abrimos mão da conversação, de mostrar o que existe em Portugal, mesmo com as fronteiras fechadas e muitos não poderem viajar. Houve preocupação em resgatar tipologias que capitalizam o interesse: o mar, o surf, a história, o turismo literário. Quando as conexões voltaram a acontecer, houve bastante motivação para visitar Portugal.
Na avaliação de Antunes, plataformas como o Travel BI de Portugal, que sistematizam dados sobre o setor turístico, auxiliam os empreendedores.
— É uma plataforma com todas as informações sobre as empresas que compõe o turismo. Todos esses dados cruzados criam uma base de dados primorosa, sendo que os empreendedores podem se plugar a essas informações.
Valorização de uma identidade própria
Convidada para participar do painel da Setur, Gabriela Schwan, CEO de Swan Hotéis, rede que tem unidades no Rio Grande do Sul e em Portugal, disse que é importante que o Estado invista na própria identidade para conseguir se vender como um setor turístico.
— Não encontro muito da cultura gaúcha na gastronomia. É muito comum ir à Serra e comer um sanduíche americano, hambúrguer, pizza. Parece que somos o Estado do sushi. Não temos o resgate da cultura, e Portugal tem isso na veia. É um país que veio de guerra, foi destruído e teve que se reinventar. Eles têm uma capacidade de restaurar o velho e transformar em novo. Nós, aqui, somos muito americanizados, e as pessoas não querem mais isso. Querem algo genuíno — disse.
Segundo Antunes, valorizar as características próprias do país foi a fórmula de sucesso de Portugal:
— O turismo do futuro é um turismo genuíno, com história para contar. Se for banal e padronizado, compete com outros que oferecem o mesmo. O turista do futuro não está interessado em experiências que não sejam genuínas. Essa é a visão que construímos em Portugal, foi assim que o turismo resgatou Portugal de uma crise. O turismo de massa vai causar fricção, desagrado e até rejeição. Temos que criar uma geração de turismo que respeita o nosso território.
Na avaliação do português, o Rio Grande do Sul tem tudo para despontar como importante destino turístico.
— Vocês têm praia, serra, têm história. Essa história, bem trabalhada, vai gerar captação de interesse — finaliza.