Resgatar o passado para que se possa conhecer as origens e projetar o futuro. Este é o objetivo do Memorial da Imigração Judaico-Alemã, em fase de conclusão na sinagoga da Sociedade Israelita Brasileira de Cultura e Beneficência (Sibra), em Porto Alegre, e com inauguração prevista ainda para este ano. No próximo dia 29 de agosto, a instituição, criada em 1936, celebra 85 anos de existência.
Idealizador do projeto, o rabino Guershon Kwasniewski explica que as primeiras gerações de viajantes que chegaram ao Brasil estavam desaparecendo sem o devido registro de suas experiências e lembranças. O memorial disponibilizará depoimentos gravados por descendentes em áudio e vídeo, além de fotografias, documentos, livros e objetos. Um passeio virtual, década a década, a partir dos anos de 1930, será possível a partir de uma tela interativa.
Localizado no primeiro andar da sinagoga, o memorial foi viabilizado com o apoio do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha e do Consulado Geral da Alemanha em Porto Alegre. Foram quase cinco anos de planejamento, aprovação e execução, segundo Kwasniewski, com um atraso impostos pelas restrições da pandemia. A logomarca do memorial mistura as cores das bandeiras da Alemanha e do Rio Grande do Sul.
Parte do conteúdo será disponibilizado na internet para permitir o acesso em qualquer lugar do mundo. Após a abertura oficial, escolas poderão agendar visitas. O conteúdo, ressalta o rabino, é para que judeus e não judeus conheçam a história desses imigrantes no Estado.
Entre os destaques do acervo, além do rico material audiovisual, o rabino aponta objetos pessoais, como malas que os viajantes usaram nas travessias de navio.
— O mundo deles estava dentro daquelas malas. Mesmo sendo pequenas, de papelão, chegavam a trazer máquinas de escrever. Isso dava uma profissão, um emprego para eles — recorda Kwasniewski.
— Também chama muito a atenção uma estrela amarela, que os nazistas obrigavam os judeus a usar na época do Holocausto — acrescenta, referindo o extermínio massivo de judeus por nazistas na Segunda Guerra Mundial.
Uma espécie de mão de metal para ler a Torá, livro sagrado do judaísmo, estará exposta para admiração do público — o artigo foi resgatado de uma sinagoga alemã antes da tragédia. Há ainda carteirinhas de associados da Sibra — uma delas datada de 1936 —, o que para muitas pessoas, na época, era a única documentação disponível até que obtivessem seus papéis junto às autoridades brasileiras.
A produção literária de membros da comunidade judaica também estará contemplada no memorial, com diversos títulos. Hertha Spier, polonesa sobrevivente dos campos de concentração, entre eles o de Auschwitz, será um dos expoentes homenageados. Ela faleceu em fevereiro de 2020, aos 101 anos, na Capital.
História das três sedes da Sibra
A história da Sibra está sendo igualmente preservada e exaltada. A sinagoga ocupa desde 1960, na Rua Mariante, no bairro Rio Branco, sua primeira sede própria, tendo passado antes por dois endereços alugados — no prédio do antigo cinema Baltimore, na Avenida Osvaldo Aranha, e depois na então chamada Rua Esperança, agora Miguel Tostes.
O ano de 2021 é marcado por outros aniversários: Kwasniewski completa 25 anos de trabalho na Sibra — teve o privilégio, recorda, de conhecer os alemães fundadores —, e a presença judaica na Alemanha, 1,7 mil anos.
A Sibra tem hoje 200 famílias associadas, mas conta com ativa participação de não associados. Numa época em que, forçosamente, eventos presenciais tiveram de se adaptar à esfera virtual, o rabino ressalta que, há anos, a Sibra foi a primeira sinagoga do país a transmitir ao vivo os serviços religiosos de Kabalat Shabat, às sextas-feiras.
— O memorial é o resgate da memória e a projeção do futuro para que as próximas gerações saibam as suas origens. Também queremos mostrar como hoje existe uma identidade judaico-brasileira, que foi se moldando com a passagem do tempo — diz Kwasniewski.
O Memorial da Imigração Judaico-Alemã aceita receber objetos e documentos variados, de valor histórico, para incrementar a coleção. Mais informações pelo e-mail secretariasibra@gmail.com ou pelo WhatsApp (51) 99207-2919.