Guershon Kwasniewski, rabino da Sociedade Israelita Brasileira de Cultura e Beneficência (Sibra), acredita que os cuidados com a saúde e a espiritualidade devem andar sempre juntos. Para ele, não há como sobreviver sem abraçar a espiritualidade. Leia entrevista concedida à GaúchaZH.
Nas últimas décadas, evidências científicas vêm corroborando a influência da espiritualidade na boa saúde. Estamos vencendo antigas barreiras que separam ciência e espiritualidade?
Todas as pesquisas científicas não fazem outra coisa além do que comprovar o que a religião descobriu há milhares de anos. Elas encurtaram a distância entre espiritualidade e saúde. Dentro da linha de pesquisa em saúde, são tão grandes os resultados em relação à espiritualidade que existem recomendações para tratar a saúde em parceria com a espiritualidade. Hoje, podemos dizer que é muito difícil tratar a saúde sem estar com a espiritualidade. Espiritualidade é fundamental e os resultados estão à vista.
Estamos mais saudáveis espiritualmente do que anos atrás?
Essa é uma pergunta que cada um deveria se fazer para saber se está saudável ou não. Aqueles que não praticavam a espiritualidade e se acercam disso agora podem sentir-se mais saudáveis. Vivemos em um mundo tão material, que nos sufoca o tempo todo, e acho que, se não abraçarmos a espiritualidade, não conseguiremos sobreviver. A rotina, a situação do Brasil especialmente, e os desencantos fazem com que tenhamos de abraçar-nos necessariamente à espiritualidade para encontrarmos sentido no dia a dia. São muitas as coisas que nos decepcionam: a violência nas cidades, as desigualdades. Tudo isso nos faz muito mal e, quando nos unimos no campo da espiritualidade, podemos encontrar algum conforto que não se encontra em nenhuma das outras áreas.
Podemos considerar que a oração cura?
Não podemos afirmar que a oração cura, mas podemos dizer que a fé dá esperança. A gente sabe, e não pode também deixar de considerar, que muitas de nossas preces, às vezes, não conseguem atingir o resultado que desejamos. Às vezes, temos pessoas muito queridas, pelas quais rezamos uma vida toda para que melhorem, mas a gente percebe que não se chega aos resultados desejados. Entretanto, sim, a fé e a oração trazem conforto. Estatisticamente, está comprovado que as pessoas mais espiritualizadas, mesmo na doença, conseguem ter uma melhor qualidade (de vida) no dia a dia. Sabemos que a fé é um ato que envolve muitas pessoas e, quando se criam correntes de espiritualidade, quando uma pessoa está doente e sabe que muitas no seu entorno estão pensando nela para que tenha mais conforto, isso faz muito bem àquele que está necessitado. Não existe nada melhor do que sentir a união e a energia daqueles que fazem parte do nosso convívio e perceber que você é importante. Quando nos unimos em prece, se não temos a garantia da cura, temos a garantia de que criaremos um movimento que levará, no mínimo, esperança e conforto para quem está precisando.
Que medidas diárias o senhor sugeriria para prevenir “doenças da espiritualidade”?
Dentro da tradição judaica, assim como em outras religiões, temos três momentos do dia que fazem parte da obrigatoriedade de rezar. Os muçulmanos têm cinco momentos no dia como obrigatoriedade de rezar. Desde o momento que abrimos os olhos e podemos perceber que somos seres finitos e que estamos aqui de forma transitória, acho que conseguimos entender melhor a dimensão da vida. Dentro dessa dimensão, necessitamos praticar, agradecer, não só pedir. Deus está cansado de apenas receber pedidos. Quando as coisas acontecem, devemos saber agradecer e também saber louvar a Deus. Então, é um caminho de ida e volta. Isso nos torna mais saudáveis. A prática diária (da espiritualidade), e não apenas quando há uma festividade, nos faz bem. Não temos de esperar um determinado momento do ano para lembrar da nossa espiritualidade. É muito pior lembrar da espiritualidade quando se está mal do que quando se está bem. As pessoas se refugiam nela quando estão mal, e quando estão bem se refugiam em outros valores. Esse é o grande erro da humanidade. As pessoas deveriam aproveitar mais quando estão na sua plenitude para lembrar da sua espiritualidade, que é o que vai segurá-las e sustentá-las nos momentos ruins da vida.