Por André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos. E-mail: alwi.war@gmail.com
A experiência que estamos vivenciando nesta pandemia que assola diferentes países será um ponto de reflexão para todos, especialmente quanto à fragilidade de nosso organismo ao ser confrontado com determinados tipos de vírus, além de uma nova realidade de que somente com uma cultura preventiva e esforço coletivo podemos reduzir o número de contaminações e barrar sua propagação.
Isso, por si só, cria um enorme problema para as autoridades de saúde, uma vez que não estamos acostumados a adotar medidas preventivas de natureza pessoal, tampouco possuímos uma tradição de agir em coletividade face a grandes eventos, mesmo aqueles com potencial catastrófico, somadas a subestimação de vulnerabilidades, as ameaças, os riscos e o descrédito de alguns setores governamentais.
Tradicionalmente, como sociedade, aguardamos o desenrolar dos fatos na esperança do improvável, que, neste caso, não deverá acontecer. Somente depois de instalada a crise e a despeito dos alertas internacionais, implementou-se uma maior fiscalização de portos, aeroportos e fronteiras secas brasileiras, especialmente com relação a pessoas que chegam ou regressam do Exterior. Medidas restritivas de contenção geral mais amplas, como a declaração do estado de calamidade pública, tampouco são céleres. Cada Estado adotou as medidas que julgava necessárias e convenientes, sem que houvesse uma coordenação geral de parte do governo federal.
Mesmo com exemplos de Alemanha, China, Espanha e Itália, países submetidos a um severo toque de recolher com cidades vazias, fechamento de fronteiras e a proibição, em grande medida, de cumprimentos cordiais como aperto de mãos, com graves sanções para quem resolva ignorar as orientações governamentais, demoramos a acordar para a crise. Outro alarme disparado acerca da pandemia – e que poderíamos prestar mais atenção – é o comportamento do sistema financeiro internacional, geralmente o último a sofrer intervenções.
No Brasil, mesmo que tenhamos demorado a internalizar a gravidade de um surto dessa natureza e suas consequências, parece que todos viraram epidemiologistas. Piadas, charges, fake news, desinformação e até o excesso de informações de diferentes fontes, algumas não tão fidedignas, outras, completamente descabidas, são frequentes nas redes sociais. Esse bombardeio de dados colabora para nos tornar lenientes e inclusive seguros de que os impactos da pandemia serão de menor intensidade do que o visto em outros países.
Talvez até seja assim, mas não é isso o que apontam as estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Assim sendo, a aposta de algumas pessoas tornou-se uma roleta russa com resultados imprevisíveis e risco para as demais. É alta a probabilidade de que parte das atitudes se transformem, ao longo da evolução da epidemia, em medo e insegurança – o que não contribuirá para mudar em nada o status quo da população. Muitos desses comportamentos até podem ser toleráveis, pois é a primeira vez, nesta geração, que enfrentamos uma pandemia dessa magnitude. A última e mais abrangente, muito similar na forma de contágio à covid-19, foi a febre espanhola de 1918, que infectou 27% da população mundial e causou cerca de 35 mil mortes no Brasil.
A boa notícia é que o grau de letalidade, segundo os epidemiologistas, segue restrito, e atitudes e medidas básicas de higienização e proteção pessoal, que tem sido vastamente divulgadas pela imprensa, podem ser tomadas pelas pessoas isoladamente, cada um dando a sua contribuição para que o vírus seja contido. É importante entender que as iniciativas individuais poderão fazer a diferença. Invariavelmente, em momentos extremos como este é que tomamos consciência do que e de quem compõe a nossa sociedade.
Antes de a crise estourar, acreditamos, de maneira geral, saber o suficiente acerca de tudo e não escutamos as vulnerabilidades e riscos quando calculados por outras pessoas baseados na crença de que somos muito diferentes dos demais. É esse comportamento que produz o choque face a qualquer diagnóstico indesejado e a indagação de surpresa.
Por que eu? É esse tipo de reação que precisa ser deixada de lado. Que a pandemia nos legue isso.