Comida de vó está na moda. No meio das muitas polêmicas relacionadas à alimentação, parece consenso entre nutricionistas que, quanto mais simples e natural for uma refeição – como aquelas que as gerações antigas comiam –, mais saudável ela é. Apesar disso, pais com frequência se mostram incomodados quando os mais velhos resolvem meter a colher na alimentação das crianças. Desobrigados de impor limites, como fizeram com os filhos, avós tentam agradar aos pequenos com opções bem menos nutritivas do que aquelas que se acostumaram a ter à mesa.
Casa de vô e vó vira sinônimo de chocolate, biscoito e salgadinho. Um estudo britânico realizado em 2017 apontou que crianças que convivem com as avós maternas têm risco 20% maior de obesidade infantil. O problema está ligado a comportamentos permissivos, como oferecer doces e alimentos gordurosos em excesso. As avós usam a alimentação como uma “ferramenta emocional”, diz a pesquisa.
Segundo a nutricionista comportamental Nathalia Duval, usar alimentos como forma de expressar amor e cuidado é recorrente independentemente da geração. Para que não se torne prejudicial, deve ser equilibrado com atividades fora da mesa, como brincadeiras e passeios ao ar livre.
— Não só com a comida, mas com outras vontades, os avós fazem o que podem para ganhar o afeto dos netos. Não é uma coisa ruim, mas é preciso cuidar para que não seja a única forma de lidar com as emoções e estabelecer vínculos — alerta.
É comum vovós e vovôs perderem a medida do razoável na ânsia de satisfazer o paladar dos netos. Em uma pergunta da reportagem às integrantes do Grupo de Mães Donna (Facebook) sobre como é a influência dos avós na alimentação das crianças, 10 de 12 comentários listaram pontos negativos. Entre as reclamações, estavam triturar demais a comida e servir refrigerante na mamadeira.
A analista tributária Gisele Mendes, 36 anos, preocupa-se com a intervenção de sua mãe na alimentação do filho de três anos e meio, Vicente. Segundo ela, refeições fora de hora, por vezes nada saudáveis, começaram a fazer parte da rotina na casa da avó, Lourdes.
— Hoje dou graças a Deus quando ele come na creche, que é saudável. Quando está com ela, é batata frita, refri, doce. Ela ensinou a comer Kinder Ovo (chocolate que vem com um brinquedo dentro), e às vezes faz uma jarra inteira de suco em pó para ele — conta Gisele.
Avó de cinco netos (três deles já adultos e, segundo ela, todos devidamente mimados com guloseimas), Lourdes Mendes, 63 anos, defende-se com um argumento que soará familiar em outros lares:
— Mãe põe limite, avó dá amor. Ela tem pulso mais firme com ele, e está certa. Mas, quando está comigo, a gente faz arte junto... E ele tem muita sede. Se deixar, toma três litros de suco. Acabo fazendo esse (em pó) por ser mais à mão.
Dependente da ajuda da mãe, com quem o menino fica durante o recesso escolar, Gisele sente-se impotente – os protestos resultaram inócuos. Para tentar equilibrar a situação, pretende buscar uma saída unilateral, dedicando-se mais à alimentação da família em casa.
Família no consultório
Os conflitos familiares são tão frequentes que, em alguns casos, vão parar no consultório médico. Segundo a doutora em saúde da criança e do adolescente Monica Assunção, é comum três gerações da família irem juntas ao nutricionista ou ao pediatra em duas situações: quando a avó irá participar da introdução alimentar ou no momento em que a criança, já com excesso de peso, precisará de ajuda para comer melhor. Monica avalia:
— O ideal é que a família discuta a importância de uma alimentação saudável. Percebemos que eles prezam pela saúde dos netos, mas precisam estar bem orientados, já que antigamente não existia esse tipo de preocupação.
O menu dos problemas à mesa inclui questões culturais. Às vezes, os mais velhos cresceram passando fome e querem proporcionar o oposto aos seus netos. Outros enxergam valor em poder comprar industrializados, justamente porque não tinham acesso.
O principal indício de que os mimos passaram dos limites é a obesidade infantil. Mas não é o único problema decorrente da permissividade. Quando a orientação alimentar na casa dos avós é muito diferente daquela recebida dos pais, a criança fica confusa. E, em lares onde as regras são rigorosas, pode usar as visitas aos avós como escape para consumir alimentos proibidos.
Há também os avós que, obcecados pela boa forma, cobram o mesmo tipo de cuidado com os netos ou criticam sua aparência. O hábito pode ter reflexos nocivos, como distúrbios alimentares.
A contribuição dos mais velhos
Tanto nos casos em que os avós exageram nos agrados quanto naqueles em que pesam a mão nas cobranças, a melhor saída é investir no diálogo. Negociar os tipos de alimentos, a hora e a quantidade em que serão oferecidos às crianças é uma saída plausível. Inclusão é uma palavra-chave.
— Os avós podem ser aliados para transmitir uma cultura alimentar que está se perdendo. Podem contribuir muito positivamente, ensinando a fazer um bolo, a preparar uma refeição, a construir um hábito alimentar de família — diz a nutricionista e professora da Unisinos Lovaine Rodrigues.
A sabedoria ancestral tornou-se a base da alimentação de Bernardo, quatro anos e meio. Cuidado pelo avô materno, Alvino Brauner, durante a introdução alimentar, ele aprendeu a gostar de coisas para as quais muitas crianças torcem o nariz: come uma ampla gama de legumes e verduras como couve e brócolis. Boa parte dos vegetais é trazida de um sítio e produzida sem agrotóxicos.
— As pessoas dizem que tenho sorte. Mau pai sempre fez a comida do meu filho de maneira caprichada. Coloca couve, enche de legumes, e ele acha gostoso. Além disso, o Bernardo passa por experiências diferentes com meu pai. Tem contato com as plantas, a natureza — conta a professora Luciana Martins Brauner, 37 anos.
Professor aposentado, Alvino diz-se contente em conviver com a “impressionante racionalidade” infantil, que o estimula a cuidar mais de si:
— Acredito que estou sendo, como avô, o pai que eu gostaria de ter sido, mas que, em razão da vida profissional, não tive tempo. Estou me doutorando como pai, e aprendendo muitas coisas. Ele me ensina que a gente ensina pelo exemplo: absorve tudo o que fazemos.
Como os pais podem atuar
- Inclua diálogo no cardápio: antes de repreender os avós por oferecerem guloseimas, procure entender suas motivações – muitos deles acreditam que essa é uma manifestação de afeto. Somente depois exponha seus argumentos e, por fim, proponha uma solução conjunta para a questão, como diminuir a frequência com que são oferecidas ou a substituição dos petiscos por outros agrados.
- Eduque pelo exemplo: crianças costumam reproduzir o comportamento dos adultos. Se você quer que seu filho se alimente de forma saudável, busque manter bons hábitos alimentares no dia a dia.
- Convide os avós para participar: muitas vezes, maus hábitos dos avós estão relacionados à falta de informação sobre o que faz bem ou mal para as crianças. Convide-os para acompanhar consultas à nutricionista ou ao pediatra, e inclua-os na conversa sobre a melhor maneira de alimentar os pequenos.
- Seja flexível: uma forma de prevenir excessos é estimular a relação saudável com a comida. Classificar alimentos como “bons” e “ruins” ou proibir o consumo de determinados quitutes pode criar tabus e atiçar ainda mais a curiosidade dos pequenos em relação a eles. Se a alimentação é saudável em casa, não será um petisco eventual que irá colocar tudo a perder.
- Confie nos seus filhos: crianças com boas referências alimentares muitas vezes demonstram menos interesse pelas guloseimas. Tente confiar na educação que você dá para os seus filhos.
Como os avós podem ajudar
- Dê preferência a guloseimas “do bem”: procure evitar produtos ultra processados ou com aditivos químicos. Massas e biscoitos, por exemplo, já contam com opções menos processadas. Prefira pipoca de panela em vez da preparada no micro-ondas – o próprio milho verde cozido é um lanche natural e delicioso. Se quiser oferecer um bolo, prepare-o em casa.
- Leve os netos para a cozinha: uma forma de tornar positiva a relação das crianças com a comida é incluindo-as no processo de produção dos alimentos. Convide-as para cozinhar com você, delegando a elas funções, como quebrar ovos ou misturar ingredientes. Além de resultar em refeições mais saudáveis, esse pode ser um momento lúdico em família.
- Busque outras forma de agradar: nem só de açúcar é feita a alegria infantil. Descubra do que seus netos gostam e proponha atividades. Idas ao parque, ao cinema ou à pracinha não envolvem comida e divertem a todos.
Receitas caseiras
Nutricionista de formação, Myriam Milano não só colocou seus conhecimentos à disposição da filha, Laura, como fez questão de participar do processo de nutrição dos netos Rafael, nove, e Natália, sete, desde a primeira infância.
— Foi uma coisa automática. Quando eles tiveram o primeiro entendimento, eu preparava com eles pratos com frutas, farinha integral, mostrava para eles o verdadeiro sabor dos alimentos — recorda a avó, que ainda hoje prepara pães e bolos com a dupla.
A filha comemora a influência positiva da mãe nos pequenos. Acredita que, se hoje comem de tudo, parte se deve às frutas, legumes e hortaliças que tanto sua mãe quanto seus avós oferecem aos dois sempre que possível.
— Não sei se eu apresentaria tantas coisas diferentes e coisas tão naturais para eles como ela apresentou. E para mim também apresentou marcas de biscoitos e massas mais saudáveis, sem gordura trans. Hoje eles comem qualquer coisa — comemora.
Banana Split Natural
Ingredientes
- Duas bananas s/casca congeladas
- Uma xícara de morangos congelados
- Uma banana in natura
- Morangos in natura
- Castanhas de caju picadas
- Melado
Preparo
- Bata as frutas congeladas no liquidificador até obterem consistência cremosa, como a de um sorvete
- Sirva o sorvete com uma banana e use os morangos, castanhas e melado para decorar
Bruschettas
Ingredientes
- Pão dormido
- Um dente de alho
- Frango picado
- Tomate cereja
- Queijo mussarela
Preparo
- Corte o pão em fatias e esfregue o dente de alho descascado em cada uma delas
- Cubra as fatias com o frango picado, tomate cereja e queijo
- Regue com um fio de azeite de oliva e leve ao forno preaquecido
- Quando o queijo derreter, retire do forno e finalize com orégano