Por Guershon Kwasniewski
Rabino, coordenador do Grupo de Diálogo Inter-religioso de Porto Alegre
Passaram-se já quase dois anos desde o dia 30 de outubro de 2017, quando, na cidade de Córdoba, na Argentina, por iniciativa da Confederação Latino-americana de Igrejas, teve lugar o Congresso Judaico Latino-americano, do Conselho Episcopal Latino-americano e da Organização Islâmica da América Latina e do Caribe. Na ocasião, foi assinada a Declaração de Córdoba, que reafirma a América Latina e o Caribe como Área de Convivência Inter-religiosa.
Convivência, “viver com”, “aceitar”, “respeitar o direito à vida de meu próximo, mesmo que seja e pense diferente de mim”. Associamos a palavra aos seguintes termos: coabitar, coexistir, contato, harmonia, intimidade, confraternização, relação, comunhão e familiaridade, entre outras.
Não poderia vir em melhor momento essa assinatura em nossa região. O contexto atual brasileiro, e gaúcho em particular, pede aos berros para que encontremos espaços como esse, no qual harmonia e respeito sejam valores sólidos para a construção de uma sociedade melhor. As religiões são fundamentais e parceiras para isso.
O Grupo de Diálogo Inter-religioso de Porto Alegre é patrimônio espiritual da cidade e do Rio Grande do Sul. Completa, neste ano de 2019, 25 anos de existência.
É um grupo reconhecido pela lei municipal 10.372, de 25 de janeiro de 2008. Está integrado, no presente momento, pelo Dr. Ahmad Ali, diretor do Centro Cultural Islâmico, pelos pastores Carlos Dreher, Jorge Dietrich e Werner Kiefer, da Igreja de Confissão Luterana do Brasil, pelo reverendo Jerry Andrei dos Santos, da Igreja Episcopal Anglicana, pelo Babalorixá Tito de Xangô, do Centro Africano Xangô Agodô, pelo Monge Yakusan, do zen budismo, Keivan Saberin e Minou Vahdat Steiger, da fé bahá’í, pelo padre Léo Hastenteufel, da Igreja Católica Apostólica Romana, por Lea Boss Duarte, Robson Lhul e Gabriel Salum, da Federação Espírita do Rio Grande do Sul, pela senhora Alfa Buono, coordenadora emérita do grupo, e pelo rabino Guershon Kwasniewski, da Sociedade Israelita Brasileira de Cultura e Beneficência (Sibra), representante do judaísmo e atual coordenador.
O Grupo de Diálogo Inter-religioso, desde sua carta de princípios, vai ao encontro da Declaração de Córdoba, quando afirma que acredita que a unidade é possível, respeitando-se a diversidade de cada religião, e que a paz é a vocação de todo o universo.
Busca atuar para que seja construída na Terra uma cultura de paz, respeito, fraternidade e convívio harmonioso entre os povos de diferentes costumes e tradições religiosas. Acredita que um mundo sem violência, guerras, devastações, poluição e desrespeito é possível por meio da conscientização das gerações atuais e futuras. E que ela se dará mais por ações do que apenas por palavras.
Aderir e assinar a Declaração de Córdoba é uma ação que ratifica os princípios do grupo.
O senhor governador do Estado do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, o secretário de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, Catarina Paladini e o secretário-adjunto Lucas Fuhr, tiveram a sensibilidade e a clareza para formalizar a adesão do Rio Grande do Sul como área de convivência inter-religiosa.
Essa declaração foi anteriormente assinada nas cidades de Córdoba, Rosário, Buenos Aires, São Paulo, Lima, Assunção, La Paz, Panamá, Bogotá, San José, Havana e, nos últimos dias, tivemos a bênção e a responsabilidade de acrescentar à lista Porto Alegre.
A diretora de projetos estratégicos do Congresso Judaico Latino-americano, Verónica Machtey, e o cônsul-geral da República Argentina, Jorge Perren, estiveram presentes no Palácio Piratini para prestigiar esse importante evento. Para conhecer mais do projeto, pode ser visitada a página zonainterreligiosa.org.
E, para acompanhar as atividades do Grupo de Diálogo Inter-religioso, sugerimos a visita do Blog das Religiões no ClicRBS.
Agora estamos focados em nosso próximo grande objetivo, a reabertura do Espaço Inter-religioso no Aeroporto Salgado Filho. Estamos trabalhando em parceria com a Fraport e em breve teremos um local aberto 24 horas para acolher passageiros e público geral que desejem um oásis espiritual de paz para antes ou depois de uma viagem.
A convivência inter-religiosa é uma semente que devemos cuidar e fazer crescer todos os dias. Mesmo aqueles que não acreditam fazem parte do nosso convívio. Devemos incluir e não excluir. Respeito, valor fundamental para iniciar, desenvolver e reforçar todo diálogo.