Duas vezes por semana, crianças do bairro São Lucas, em Viamão, se reúnem para prática de um jogo centenário: a capoeira. O encontro ocorre na sede da associação de moradores da comunidade. Um projeto desenvolvido no local oferece, há seis anos, aulas desta e de outras modalidades gratuitamente.
A Associação Beneficente Cultural Recreativa Esportiva Independente (Abcrei) tem poucos associados contribuintes e sobrevive da renda de alugueis do salão de festas e de alguns eventos comunitários. Entretanto, o administrador dos projetos e ex-presidente da Abcrei Ari Skay conta que, desde que as aulas foram idealizadas, nunca pensou em cobrar dos alunos.
– O objetivo das oficinas é oferecer um local para as crianças passarem o tempo, evitando que elas fiquem na rua ou em situações de vulnerabilidade – explica Ari.
As atividades no local iniciaram com a prática da capoeira – desenvolvida no Brasil por descendentes de africanos escravizados, misturando arte marcial, esporte, cultura popular, dança e música. Porém, a associação também variou as aulas nos anos seguintes: passou a oferecer violão, maxixe e zumba.
A capoeira e o violão são direcionados para as crianças, recebendo cerca de 50 alunos nas duas modalidades. O aprendizado da dança maxixe e a ginástica zumba tem foco nos adultos, atendendo mais de 60 pessoas.
Voluntariado
Na segunda-feira, a reportagem acompanhou uma aula de capoeira. Quem ministra os encontros é Sergio Oliveira, 41 anos. Conhecido como mestre Boca, ele é capoeirista há 26 anos e dá aulas desde 1999. Assim como todos que ensinam na associação, Boca é voluntário.
– Durante minha adolescência, o aprendizado da capoeira me fez uma pessoa melhor. Sempre paguei minhas aulas, mas resolvi ensinar para as crianças voluntariamente. É uma maneira de retribuir tudo o que o esporte fez por mim.
Entre os alunos, a sensação é de que o esporte melhora o condicionamento físico e a autoestima. A estudante Ariane Dapper Silva, 15 anos, participa das aulas há cinco anos. Ela começou quando passou pela Abcrei e viu outras crianças praticando capoeira. Com o objetivo de ser aceita no Exército Brasileiro, Ariane conta que a atividade melhorou seu desempenho no curso preparatório para a carreira militar.
– Sempre gostei do esporte. Nestes cinco anos, minha resistência física evoluiu muito – garante ela.
Fernando Sabino Nascimento Machado, 10 anos, entrou para o projeto há pouco mais de um ano e meio. Ele relata que seu desempenho na escola melhorou – para permanecerem no projeto, as crianças precisam ter boas notas.
– Ainda venho com meus amigos para cá, então, sempre é muito divertido – comemora.
Evento de formação
O mestre Boca ressalta que o reconhecimento pelo esforço dos alunos será coroado no dia 19 de outubro. As crianças estarão no evento Capoeira Sempre Mais, onde os jovens recebem sua cordas de batizado no esporte ou mudam de graduação, trocando a cor da corda – semelhante ao que ocorre em outros esportes com faixa de graduação, como o judô, por exemplo.
A presidente da Abcrei, Simone Rodrigues Azevedo, 46 anos, ressalta ainda que a associação realizará uma festa solidária de Natal, onde haverá distribuição de brinquedos e lanches para a comunidade.
Simone explica que os moradores que quiserem prestar qualquer tipo de ajuda podem entrar em contato com a entidade por meio do WhatsApp. O número é (51) 99292-7070.