Esqueça o futebol de botão da sua infância. A brincadeira virou esporte e ganhou o nome de futebol de mesa.
São pelo menos seis modalidades, documentadas no site da Confederação Brasileira de Futebol de Mesa (CBFM), cada uma com a sua "bola", que nem sempre é uma esfera. Pode ser um disco ou até mesmo um cubo, como na modalidade dadinho, que tem a sua 12ª Copa do Brasil disputada em Porto Alegre neste sábado (27) e domingo (28) no ginásio da Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal (APCEF), na Zona Sul.
Todos os competidores são amadores, mas não basta querer jogar. Para participar, é preciso se associar a um clube filiado a uma federação regional, que por sua vez é ligada à Confederação Brasileira. A escolha da Capital para sediar o certame tem como objetivo divulgar o dadinho no Rio Grande do Sul, Estado com mais tradição na regra de um toque.
Das 24 mesas utilizadas simultaneamente para o certame, 11 são novinhas em folha e ficarão como doação. Mário Bürgel, 58 anos, presidente da Zona Sul Futmesa, clube que é um dos realizadores do evento e do qual ele é um dos botonistas na competição, já tem até planos para os equipamentos:
— Está programado para julho o Troféu Laçador, que é uma organização interna da Zona Sul Futmesa, e no dia 5 de outubro queremos fazer o primeiro estadual da modalidade.
O Rio Grande do Sul é representado na Copa do Brasil por 21 botonistas de quatro clubes: Associação de Futmesa de Porto Alegre, Círculo Operário Pelotense, Grêmio Náutico União e Zona Sul Futmesa. Há jogadores de Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro, que tem a maior delegação, com 30 atletas. Pudera: o Rio é o estado com maior tradição no dadinho, com alguns dos esportistas mais habilidosos.
Outra diferença do futebol de mesa para o futebol de botão de brincadeira é a complexidade. A lista de regras do dadinho tem 15 páginas e 55 artigos. Em resumo, cada competidor pode dar apenas três toques consecutivos com cada botão e tem de "chutar" a gol até o nono toque. As partidas têm dois tempos de sete minutos e não têm árbitro, ou seja, vale o fair play. Mas os organizadores garantem que em partidas mais acirradas ou decisivas os jogadores podem solicitar um.
— O dadinho é uma modalidade mais dinâmica — explica Ronald Neri, vice-presidente de Dadinho da CBFM e botonista do Flamengo. — Se você perguntar qual modalidade é mais fácil para uma criança jogar, respondo que é essa. É um jogo de ataque, não é um xadrez.
O dadinho permite que cada competidor customize seus botões, que podem ser de diferentes tamanhos e cores, dentro de alguns parâmetros. Mas o botonista Carlos Mário Pereira da Silva, 60 anos, decidiu inovar e pediu para um amigo artesão fabricar um time em que cada botão tem estampada a foto de Chico Anysio caracterizado com um personagem diferente.
— Sempre admirei o Chico Anysio, não apenas como humorista, mas também como ser humano. Para mim, ele não morreu — disse o jogador da Zona Sul Futmesa, após uma partida, neste sábado.
Silva, que é de Porto Alegre, se diz um novato no dadinho, mas joga outras modalidades há 15 anos. Calcula que tenha ente 8 e 10 times completos de botão. Essa cultura é usual entre os praticantes do esporte. Fabricantes e revendedores de times de botão se enfileiravam em uma parede do ginásio da APCEF para mostrar seus produtos.
Um escrete completo de acrílico, o material mais difundido, pode custar de R$ 350 a mais de R$ 1 mil, segundo Alexandre Brasiliano Lage, 39 anos, mais conhecido como Alex Lage. O artesão e botonista, que criou a marca Lage Botões, produz os botões sozinho há cinco anos, um a um, em um torno mecânico. Ele tem uma loja em Juiz de Fora (MG) e viaja pelo país para divulgar seus produtos em competições. Formado em Administração, Lage largou um emprego para viver do negócio próprio e diz que ganhou em qualidade de vida. Os botões mais caros, explica ele, são feitos de materiais mais antigos:
— Na hora em que você vai palhetar, eles são mais macios. Também têm um desenho diferenciado. Tem gente que valoriza e tem gente que não está nem aí. É uma questão de gosto. Mas não acho que isso vai fazer alguém ganhar ou perder.