Após 200 anos das tradicionais sapatilhas de balé cor-de-rosa serem lançadas, essa é a primeira vez que uma empresa decide criar sapatilhas também em outras cores, pensando especialmente em bailarinos não brancos que precisam tingir o acessório com maquiagem para que ele se adeque aos seus tons de pele.
A Freed of London, marca inglesa especializada em sapatos de dança, lançou em outubro duas novas cores de sapatilhas, marrom e dourado, o que permite que bailarinos não brancos também possam usá-las sem problemas.
O lançamento é uma parceria com a Ballet Black, uma companhia de dança profissional, também inglesa, criada para que bailarinos e bailarinas negros e asiáticos tenham espaço e visibilidade no mundo da dança. As sapatilhas são feitas à mão e a coleção levou cerca de um ano para ser finalizada. O objetivo da criação é atender os dançarinos de todos os tons de pele.
Em entrevista ao The New York Times, a bailarina-sênior da Balllet Black Cira Robinson, que também estrela a campanha da Freed of London, contou que desde os 15 anos tinha o costume de pintar suas sapatilhas para que atingissem uma cor que se assemelhasse ao seu tom de pele. O ritual, apesar de ser pouco conhecido por grande parte das pessoas, é uma prática comum entre bailarinos e bailarinas negras do mundo todo. No YouTube, há tutorias que ensinam como fazer o processo.
Cira conta que, no início da carreira, costumava usar tinta em spray para pintar o sapato, mas que o material as deixava com um aspecto feio, craquelado e em relevo. Após alguns anos, ela mudou a técnica, passou a usar maquiagem, como bases faciais com baixo custo, para fazer o processo.
— Eu ia nas lojas mais baratas para comprar base, aquelas do tipo que você nunca colocaria em sua pele porque iria causar alergia. Baratas tipo 2 dólares — relata.
Cira gastava cerca de cinco tubos de maquiagem para tingir seus quase 15 pares de sapatilhas. O processo era trabalhoso e cansativo, demorava quase uma hora para que ficassem prontas, mas era necessário.
— Eu não tinha outra alternativa — explica Cira.
Agora, porém, com o lançamento dos novos tons de sapatilhas lançadas, nem Cira e nem outros bailarinos precisarão enfrentar a dificuldade de buscar alternativas para que seus objetos de trabalho se adequem a eles.
Há cerca de um ano, a empresa norte-americana Gaynor Minden também desenvolveu sapatilhas para outros tons de pele, mas foi a Freed of London que decidiu debater sobre o “ritual” de tingimento das sapatilhas, além de questionar sobre a falta de bailarinos negros no balé, que continuam sendo uma raridade.