A emoção escapa entre os olhares aparentemente sisudos da professora de educação física e bailarina Jacqueline Zacarias Silveira, 52 anos, de Alegrete, quando um novo aluno arrisca os primeiros passos de dança no tablado da Escola de Dança Ballerina, fundada por ela. Em meio à concentração necessária para exigir refinamento na apresentação, ela chega a esboçar um sorriso. E tem motivo: a concretização do desejo de Jacqueline, embalado desde a infância, de tornar o balé um motivador de novas vidas.
Envolvida com a dança há quatro décadas, a falante professora criou o projeto Primeiros Passos em 1996 para atender crianças de baixa renda da região. Os primeiros 113 alunos tinham uma aula por semana, numa sala doada para a atividade. Mas o desenvolvimento das crianças fez o projeto ser abraçado pela prefeitura, a partir de 2004.
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Hoje, são 350 alunos espalhados pelas escolas públicas do município e no lar transitório. As formandas da escola de balé, juntamente com Jacqueline, são as monitoras das crianças, que ganham o uniforme e ainda os figurinos nas apresentações de final de ano. Aos sábados, um grupo de 50 crianças, com idades entre sete e 14 anos, ainda recebe aulas gratuitas na própria instituição. Outra iniciativa é criar o mesmo projeto em Porto Alegre, onde a filha de Jacqueline a bailarina Camila Silveira Vicenti, 31 anos, mantém uma filial da escola na Zona Norte.
Dois alunos que estão no projeto estão sendo analisados por olheiros para participarem de um dos maiores eventos de dança do mundo, o concurso Internacional Opus Ballet, em Firenze, na Itália. Descoberta por Jacqueline no Primeiros Passos, a aspirante a bailarina Dandara Amorim Veiga, 19 anos, estuda desde agosto numa das mais tradicionais escolas de balé, em Nova York (EUA). O que antes era um possível caminho plantado por Jacqueline começou a dar os frutos.
Início
"Quando era aluna de balé, realizava apresentações gratuitas nos bairros mais carentes da cidade. Sempre me questionava se aquilo satisfazia quem estava assistindo. Deixávamos as crianças com brilho nos olhos e com a vontade de fazerem parte, mas elas só nos viam. Então, passei a querer que o bairro, mais do que assistir, também dançasse a nossa coreografia. Assim, surgiu o Primeiros Passos."
Oportunidade
"Só a elite dançava na cidade, e eu sempre quis uma escola onde se pudesse democratizar a dança para todos. O balé dá vigor físico e conhecimentos, motiva, disciplina o aluno e pode ser chance de transformar a vida de alguém."
Missão
"Minha filosofia sempre foi integrar a família, a escola e a comunidade no balé. Em Alegrete, acho que conseguimos. Sempre que necessitamos de auxílio para apoiar os alunos nas viagens para concursos, a comunidade se une e ajuda."
Projeto
"O Primeiros Passos começou tímido, com a intenção de ser recreativo e de espalhar o conhecimento sobre a dança. Mas ele acabou se ampliando e sendo uma chance para as crianças que jamais teriam a oportunidade de mostrar o seu talento natural. Popularizamos o balé em Alegrete, e isso não tem preço!"
Ponto final
"Comecei a dançar com 12 anos e nunca mais parei. Estudo dança todos os dias, trocando experiências com os meus alunos. Na minha vida, a arte da dança não tem um ponto final. É um desafio constante."