Iniciam-se ao pôr do sol deste domingo (9) as celebrações do Rosh Hashaná, o ano-novo judaico, agora o de número 5779. As comemorações, sobretudo litúrgicas, nas sinagogas, estendem-se até o entardecer da próxima terça-feira (11). Para a comunidade judaica, trata-se de um momento de instrospecção, quando se realiza um balanço sobre a própria vida e da conduta em relação ao outro e a Deus, avaliando-se o que se passou ao longo do ano. Como explica o rabino Guershon Kwasniewski, da Sociedade Israelita Brasileira de Cultura e Beneficência (Sibra), para a religião judaica, Deus criou o ser humano no Rosh Hashaná.
– Estamos comemorando o aniversário da criação do mundo e do ser humano como se fosse o nosso próprio aniversário. Quando a gente faz anos reflete sobre a vida, a existência, os objetivos, a possibilidade de entender que somos seres finitos e estamos de passagem nesta Terra – comenta Kwasniewski.
Segundo o rabino, serão dias de muita oração pela paz, especialmente no Brasil.
– Neste tempo de eleição, precisamos de paz interior para reverter para o exterior. Necessitamos de muito respeito para quem pensa diferente. Mesmo que não tivesse acontecido o que aconteceu (o ataque contra o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro, na última quinta-feira), existe muita animosidade. Isso se reflete nas redes sociais, dissipa-se como pólvora – observa. – O ódio se espalha rapidamente, e o amor se espalha mais devagar.
Durante as festividades do Rosh Hashaná, as famílias costumam frequentar o serviço religioso (a página facebook.com/sinagogasibra transmite as cerimônias ao vivo entre este domingo e terça-feira, às 9h e às 19h, para quem não puder comparecer) e depois se reunir em casa para jantar. A maçã com mel, representando um ano bom e doce, e um pão redondo trançado (chala) são itens frequentes à mesa. A cabeça de peixe também tem um significado especial: a orientação do novo ano é para a frente, em direção à cabeça, e não para a traseira. Faz-se também a bênção do vinho para um brinde.
Neste período, é obrigação de todo judeu, conforme Kwasniewski, ouvir o som do shofar, um dos instrumentos mais antigos do mundo, feito a partir de um chifre de carneiro, presente nas sinagogas. É um dos momentos mais aguardados nas cerimônias religiosas.
– Significa acordar para a reflexão – informa o rabino.
Para 5779, Kwasniewski deseja mais compreensão.
– Que os brasileiros nos entendamos melhor, que possamos apreciar mais o valor da vida e o que significa estar vivo. Respeitar a vida, os direitos. Que possamos entender que, se existe uma lei, é para ser respeitada. Ela é esquecida, e temos os problemas que temos hoje. Cada um se acha dono da verdade e faz sua própria lei – reflete o rabino, que salienta que a festa é judaica, mas os votos de felicidade são para todos, independentemente da religião.
As celebrações de Rosh Hashaná se encerram no pôr do sol de terça, mas o atual período festivo da comunidade judaica vai até 19 de setembro, também ao cair do sol, no chamado Dia do Perdão.
– No ano-novo, somos inscritos no livro da vida e, no Dia do Perdão, o nosso nome é rubricado. Nesses 10 dias de arrependimento, nosso destino é julgado: quem vai viver, quem vai morrer, quem vai adoecer, quem vai ter uma vida feliz, quem vai ter uma vida triste, quem vai ter dias calmos, quem vai ter dias turbulentos. Tudo isso é avaliado por Deus nesses dias.
O Dia do Perdão é marcado por um jejum completo de 25 horas, iniciado uma hora antes do pôr do sol de 18 de setembro. No dia seguinte, 19, o toque do shofar quebra o jejum.