As oportunidades de negócio abertas pela legalização atraíram ao Uruguai até não usuários de maconha, caso do espanhol naturalizado brasileiro Oscar Salgado, 42 anos. No final de março, ele se despediu da mulher e da filha de quatro anos, em Salvador (BA), e transferiu-se para Salto, à margem do Rio Uruguai, onde abriu uma empresa para importação de fertilizantes e implementos voltados ao cultivo. Acredita que é possível ganhar dinheiro no setor. Planeja trazer a família quando o negócio engrenar.
– Amo a Bahia, gosto de morar lá. Mas tentei fazer essa empresa funcionar no Brasil durante quatro anos e não consegui. Desisti. Isso me empurrou para cá. No Uruguai, enxergo uma oportunidade. É o lugar ideal para crescer – afirma ele.
Nascido em Bilbao, no País Basco, Oscar é naturalizado brasileiro desde 2005. O que tentou implantar em Salvador foi uma empresa de fertilizantes de última geração, ideais para cultivar plantas com floração, como a maconha, porque fazem essa floração ser mais acelerada e potente. Nunca conseguiu registrar os produtos. Só perdeu dinheiro. Mas conheceu o técnico em agronomia argentino Martín Mendieta, 39 anos, que propôs transplantarem o projeto para o Uruguai, surfando na legalização da maconha. Associados a mais dois espanhóis e um uruguaio, investiram 20 mil euros e criaram a companhia Five Monkeys. Duas semanas após chegar a Salto, a empresa já tinha a papelada oficial, conta em banco e nota fiscal. Oscar chegou a se assustar com a rapidez.
O plano é ser a primeira empresa legalizada de importação de insumos para o cultivo de maconha – o Instituto de Regulação e Controle da Cannabis (Ircc) já registra 8,5 mil indivíduos e mais de 90 clubes que fazem o cultivo e que são clientes em potencial. Para importar os fertilizantes, Oscar e os sócios dependem de registro das fórmulas no Ministério da Agricultura (as autoridades disseram que a documentação sai em dois meses), mas outros implementos – estufas, tubos, lâmpadas e ventiladores – já podem ser importados. A empresa tem contratos com diferentes fabricantes europeus, ansiosos por entrar no mercado latino-americano.
Depois de conversar com GaúchaZH junto à praça central de Salto, em uma sexta-feira de abril, Oscar tinha outro compromisso: uma reunião via Skype com uma empresa holandesa interessada em que ele distribua no Uruguai seus fertilizantes e sementes.
– Muita gente já sabe que estamos aqui, que temos o negócio, e quer entrar nesse mercado. Essa é uma indústria como qualquer outra. Na América do Sul, esses produtos são novos, há muito preconceito, é complicado fazer esse negócio de forma legal. Você chega a uma repartição dizendo que quer registrar algo de cannabis e acham que você é ladrão, vagabundo. As pessoas estão vendendo, mas sem registro. Por que não pagar impostos e oferecer melhor preço? Nós estudamos o mercado. Nos EUA, ele já movimenta milhões. Quando as pessoas veem isso, acaba o preconceito. Queremos ser pioneiros na América Latina – projeta Oscar.