Com uma certa frequência, livros e filmes reciclam questionamentos acerca dos principais personagens envolvidos na Páscoa — quando, segundo a Bíblia, Jesus ressuscitou três dias após ser crucificado. Polêmicas foram levantadas com o livro O Código da Vinci, de Dan Brown, e, mais recentemente, com o livro Maria Madalena, do historiador Michael Haag, que inspirou o filme de mesmo nome, ainda em cartaz no cinema. Pesquisadores se debruçam na tentativa de responder: o que há de verdade na história contada pelo livro sagrado do cristianismo?
— Certeza, certeza, não temos de nada. Mas temos uma convergência de relatos sobre Jesus ter existido e sido crucificado. O mais importante é do historiador romano Flávio Josefo, alguém que não estava ligado aos fatos, não tinha fama de mentir e conhecia bem a Galileia, porque havia sido governador — destaca Gabriele Cornelli, professor de Filosofia Antiga na Universidade de Brasília (UnB).
A Bíblia como conhecemos foi construída ao longo dos séculos. A história de Jesus e, portanto, de sua ressurreição, aparece nos Evangelhos de quatro apóstolos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Em suma, Judas, um dos 12 apóstolos, entrega Jesus às autoridades romanas. Jesus é açoitado e julgado por Pôncio Pilatos, que pergunta ao povo judeu: quem sabe crucifiquemos o assassino Barrabás? Irritados por Jesus se proclamar o filho de Deus, os judeus negam. O líder camponês, então, é crucificado e ressuscita três dias depois.
Mas aqui já surge um problema: o filho de José e de Maria morreu por volta do ano 30 d.C, ao menos 35 anos antes do testemunho mais próximo (o de Marcos) e 60 anos do mais tardio (o de João). Passado tanto tempo, é possível que detalhes tenham se perdido.
Historiadores também ficam com um pé atrás em relação ao que consta na Bíblia: o esforço é confrontar o conteúdo dos textos com a lógica do mundo na época. Jesus não era branco de olhos azuis, mas moreno, já que nasceu no Oriente Médio, por exemplo. E Maria Madalena não era prostituta, algo que só foi dito séculos depois, por um Papa, para impedir que mulheres ganhassem espaço na Igreja Católica.
Veja o que a ciência sabe sobre estes personagens
Jesus Cristo
A existência de Jesus e sua crucificação são alguns dos poucos consensos entre religiosos e cientistas. Leia a reportagem completa.
Maria Madalena
Primeira pessoa a ver Jesus ressuscitado, segundo o Evangelho de João, Maria Madalena não era prostituta — em nenhum momento da Bíblia, aliás, isso é posto. Leia a reportagem completa.
Judas Iscariotes
A única cópia restante do Evangelho de Judas foi publicada em 2006 pela revista National Geographic. O texto, ao contrário dos Evangelhos da Bíblia, afirma que Judas era o apóstolo mais fiel. Leia a reportagem completa.
Pôncio Pilatos
O procurador romano responsável pelo julgamento e crucificação de Jesus é retratado de forma diferentes por historiadores e pelos Evangelhos. Leia a reportagem completa.
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