Primeira pessoa a ver Jesus ressuscitado, segundo o Evangelho de João, Maria Madalena não era prostituta — em nenhum momento da Bíblia, aliás, isso é posto. No livro sagrado, Maria do vilarejo de Magdala (por isso Madalena) passa a seguir Jesus após ser libertada de sete demônios, indicativo de que era pecadora.
Ela só ganhou a imagem de prostituta e adúltera porque, em 591 d.C, o papa Gregório Magno definiu-a assim, em sermão na Basílica de São Clemente, em Roma. Segundo o historiador André Chevitarese, professor de História na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a decisão foi tomada para estigmatizá-la e, com isso, frear o avanço das mulheres na Igreja Católica no fim do século 6.
— O Evangelho de Paulo diz que ser apóstolo é ver Jesus ressuscitado, e Maria Madalena o viu. Com a experiência, ela é posta na parte mais alta da pirâmide. Na época de Gregório, há uma demanda no interior de comunidades cristãs sobre as mulheres estarem nos púlpitos pregando. Gregório, então, associa Madalena a uma mulher cujo estatuto social não era digno — diz o cientista, também autor do livro A Descoberta do Jesus Histórico (Editora Paulinas).
Já a história sobre ela ser casada com Jesus partiu de uma citação na Bíblia onde Jesus a beija — mas a cena não é incomum, ele também beija os apóstolos homens, sem erotismo. O suposto caso foi popularizado no livro de ficção O Código da Vinci, no qual Madalena foge da Terra Santa com seu filho, que seria de Jesus, e funda a dinastia merovíngia dos reis franceses.
— Ela deveria ter mau comportamento por causa dos sete demônios, mas não é dito que ela era prostituta. A história de ela ser esposa de Jesus é folclore popular. No Evangelho do (apóstolo) João, há um grande destaque a ela por sua transformação. Ela é privilegiada por ver Jesus ressuscitado e, nisso, se mostra o valor de uma verdadeira conversão — diz o professor de Teologia na PUC-Rio, Isidoro Mazzarolo.
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