Por três horas semanais, o salão da Associação de Moradores do Bairro São Lucas, em Viamão, se transforma. Até os nove buracos na parede lateral de alvenaria viram luminárias especiais para a apresentação que segue no palco improvisado no tablado de madeira do prédio. E o responsável por esta mágica é o ator e professor de teatro Juliano Rabello, 27 anos, um filho de Viamão, como costuma dizer, que decidiu espalhar entre os moradores da região o amor dele pela arte.
O que começou em 2011 como uma oficina do Mais Educação na Escola Municipal Governador Walter Jobim, no Bairro Aparecida, onde o ator estudou e morou na infância, acabou se transformando num grupo teatral e já rende frutos: os primeiros alunos já estão dando aulas gratuitas de teatro para crianças e jovens da região. Mesmo sem apoio ou patrocínio, Juliano fundou ao lado deles o grupo Efêmeros Teatro de Grupo.
Nas tardes de quinta-feira, a turma ensaia no salão as quatro peças do repertório – duas criadas pelo grupo e duas de Shakespeare – e as apresenta em festivais na cidade e no Estado. Para seguirem, Juliano e os jovens têm apoio da Associação de Moradores do São Lucas, que libera o salão, e da Walter Jobim, que libera o ginásio para ensaios aos sábados de manhã. Não há patrocínio, só dedicação espontânea.
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Retribuição
"Esta oficina surgiu em 2011, como desejo de retribuir tudo o que a comunidade escolar me proporcionou, pois estudei na escola de origem da oficina, fiz meus principais amigos e conheci minha esposa. Hoje, se tornou o lugar onde trabalho com estes jovens."
O teatro
"Nas escolas, de forma geral, o teatro é subvalorizado, serve só para apresentaçõezinhas em datas comemorativas, mesmo causando estranhamento e encantamento. Nosso objetivo é mostrar como ele pode ser transformador. Minha ideia é propor um trabalho de pesquisa, construção, exigências para com nós mesmos e pensamentos sobre o que queremos questionar para o público. Nas apresentações, o impacto e a aceitação são incríveis."
Enfoque pedagógico
"Sempre trabalhamos entre um grupo e uma oficina, até decidirmos trabalhar como grupo, para nos aprofundarmos na nossa próxima peça. Mas, ainda assim, o norte do meu trabalho, ainda que eu atue como diretor das peças, tem um enfoque pedagógico."
Planos
"Nosso plano é abrir mais oficinas em escolas públicas e proporcionar o teatro para os jovens. É só isso que precisamos: oportunidade para aprender. Meus alunos estão dando aulas para as crianças do Bairro São Lucas, estão passando adiante o que receberam. E isto é lindo!"
Patrocínio
"Estamos em fase de captação de patrocínio, entrando em contato com empresas, queremos dar mais visibilidade ao grupo, fazer mais temporadas pelo Estado, nos profissionalizar. Se um jovem como os que estão aqui faz estágios em empresas, porque não pode fazer em um grupo de teatro? Estamos fazendo uma peça sobre Bertold Brecht, um grande dramaturgo alemão. Queremos entrar em contato com outras grandes companhias para viajarmos e aprendermos mais."
Paixão
"Tem a ver com estar apaixonado e tomado por algo. Acho que é a única forma de viver intensamente. Noite destas, mal dormi. Estava encantado com a nossa nova peça e pensando nas cenas. O teatro é apaixonante porque conecta as pessoas, tem a ver com ternura, com estado de graça. É assim que eu me sinto: em estado de graça por passar adiante o meu conhecimento."
Consciência
"Acho que tem a ver com algo pessoal, de descobrir a própria verdade, de ser honesto consigo mesmo, e lutar por isso. É ter consciência da partilha, de que vivemos em coletivo e um pouquinho de verdade e integridade que você passa para alguém através de seu trabalho, pode significar grande coisa. Pode até mudar a vida de alguém."