A crise global da falta de semicondutores compromete a produção de veículos, enquanto os reflexos da pandemia do coronavírus ainda prejudicam as vendas. Com as linhas de montagem parcialmente paradas ou em marcha lenta, faltaram carros novos no mercado brasileiro. A maioria das fábricas recorreu a paradas técnicas em maio e continua com operação parcial neste mês. É o caso de duas das três maiores fabricantes do país, a Volkswagen e a General Motors.
Os dados divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) na segunda-feira (8) mostraram que desde janeiro a produção mensal ficou entre 190 mil e 200 mil unidades. O volume é considerado uma espécie de “teto técnico” provocado pela falta de semicondutores.
O problema, que deve continuar até o começo de 2022, é o responsável pelas paralisações temporárias de parte das fábricas, algumas por períodos curtos, outras mais longos, explicou o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes.
O representante dos fabricantes ressalta que a falta de semicondutores atinge vários setores industriais, mas o automotivo em especial. Um único veículo pode ter até 600 semicondutores em seus sistemas eletrônicos de motorização, câmbio, segurança, conforto, entretenimento, entre outros.
Produção, venda e exportação
A produção de veículos continua estável, e a falta de semicondutores prejudica o retorno aos níveis pré-pandemia. Em maio, saíram das linhas de montagem 192,8 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, com crescimento de apenas 1% na comparação com abril, mas 348% sobre o mesmo mês de 2020.
As 188,7 mil unidades vendidas em maio representaram alta de 7,7% sobre as 175,1 mil de abril e de 203% na comparação com maio do ano passado. A média diária foi de 9 mil emplacamentos, contra 8,8 mil em abril. O estoque foi de 96,5 mil unidades, das quais 66,6 mil nos concessionários e 29,9 mil nas montadoras, o equivalente a 10 dias nas lojas e 15 nas fábricas. O destaque de maio foi o segmento de veículos comerciais, com 11,5 mil caminhões, melhor resultado do segmento desde dezembro de 2014.
As exportações continuam em recuperação. Os 37 mil veículos embarcados em maio representaram crescimento de 9,1% sobre os 33,9 mil de abril e 855% em relação ao mesmo mês de 2020. Em valores, foram US$ 693,4 milhões, 5,8% a mais na comparação com os US$ 655,1 milhões em abril.
No resultado acumulado do ano, a produção cresceu 55,6%, com 982 mil unidades contra 631 mil no mesmo período de 2020. O licenciamento de 891,7 mil veículos de janeiro a maio representou um salto de 31,9% em relação aos 676 mil em igual período do ano passado. A exportação de 166,6 mil veículos saltou 66,5% sobre os 100 mil de 2020. Em valores, foram US$ 3,1 bilhões, 78,5% a mais sobre o US$ 1,7 bilhão de um ano antes.
Visão de futuro
A crise dos semicondutores, com produção quase toda concentrada na Ásia, revela um desafio que precisa ser enfrentado pelo Brasil como uma nação com visão de futuro, enfatizou Moraes.
Já estamos atrasados, o que exige urgência e grande visão de futuro por parte dos nossos dirigentes
LUIZ CARLOS MORAES
Presidente da Anfavea
— Estados Unidos e países da Europa captaram o sinal de alerta e já estão desenvolvendo políticas industriais no sentido de produzir localmente esses componentes eletrônicos, que são a base de toda a revolução tecnológica do 5G, internet das coisas, automação e outras já em curso — afirmou o presidente da Anfavea.
O executivo da entidade dos fabricantes de veículos lembrou que o setor automotivo e outras indústrias dependem cada vez mais desses insumos para dar um passo além em termos tecnológicos, atraindo para o país investimentos em pesquisa e desenvolvimento, e, na esteira disso, gerando conhecimento técnico, acadêmico e empregos de altíssima qualidade.