A Ford e a Volkswagen anunciaram nesta terça-feira (15) as bases de sua aliança global, cuja junção não inclui a troca de ações. O primeiro veículo produzido será uma picape, com lançamento previsto para 2022. Em seguida virão vans comerciais para o mercado europeu. Futuramente, a parceria deverá ser estendida a outras linhas de produtos.
Em comunicado, as empresas afirmam que o objetivo é gerar uma escala de produção eficiente para as montadoras a partir de 2023. Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul, disse que as picapes envolvidas nessa primeira fase serão a Ford Ranger e a Volkswagen Amarok.
De acordo com Watters, a montadora americana terá a liderança no desenvolvimento de motores e plataformas. As próximas gerações dessas picapes podem ser produzidas na mesma fábrica. Hoje, Ranger e Amarok são feitas na Argentina, em diferentes unidades.
Watters afirma que os principais mercados para esses novos utilitários serão a América do Sul, a África e a Europa.
— É importante que os produtos sejam diferenciados, mas teremos ganho de escala e compartilhamento. Ainda não falamos aonde a montagem vai ser, temos opções, mas ainda não chegamos ao ponto de anunciar onde irá acontecer — disse Watters.
A Argentina já tem uma fábrica conjunta para produção de picapes. A japonesa Nissan já produz a Frontier na unidade de Córdoba, de onde sairá também a Mercedes Classe X, que chega ao mercado ainda neste ano. Em seguida, virá a Renault Alaskan.
O país vizinho está se tornando um polo de produção de veículos utilitários de médio porte. A Toyota Hilux também é montada lá. As picapes são produtos de maior rentabilidade para as empresas. No Brasil, a produção é prioritariamente de veículos compactos, de menor valor agregado.
Após falar sobre os planos para a América do Sul, o presidente da Ford ressaltou que não se trata de uma repetição da Autolatina – empresa criada em 1987 para unir as duas marcas no Brasil e que perdurou até 1996:
— Vou dizer o que esse acordo não é. Não se trata de uma volta da Autolatina, se limita aos produtos. São duas empresas separadas, com DNA diferente.
Sobre as diferenças entre essa aliança e outras parcerias que deram errado, como a própria Autolatina no Brasil e a fusão dos grupos Daimler e Chrysler nos anos 1990, Watters diz que houve aprendizado:
— As pessoas aprendem com o tempo, apreendem a formar alianças. Além disso, o mundo está mudando, há mais competitividade. O centro de tudo é o consumidor, precisamos compartilhar os pontos positivos. Não tínhamos tanta experiência antes, mas trabalhamos com muitas outras parcerias no mundo e aprendemos com isso.
As montadoras estudam também desenvolver conjuntamente veículos elétricos e autônomos. Juntas, Ford e Volkswagen produziram cerca de 1,2 milhão de veículos comerciais leves globalmente em 2018.
Herbert Diess, presidente do grupo Volkswagen, mencionou a complementaridade entre as linhas de produtos comerciais das marcas, sem entrar em detalhes sobre o que poderia vir depois da picape e das vans.
A Volks tem uma linha mais completa de modelos compactos globais, incluindo veículos utilitários esportivos recentes, feitos sobre a plataforma global MQB. A marca produz ainda caminhões de diferentes marcas, que fazem parte do grupo Traton.
Já a Ford tem a picape média mais vendida dos Estados Unidos, a F-150, veículos comerciais de sucesso nos maiores mercados e está mais avançada no desenvolvimento de carros autônomos.
A montadora americana também avança em parcerias, além de aquisições de empresas de tecnologia que desenvolvem aplicativos de compartilhamento de carros.