O casal começou a correr para se preparar não para uma prova, mas para uma viagem. Ludovina Bisotto, 66 anos, corretora de imóveis, e Marcos Balreira de Souza, 63, técnico em informática, visitaram o Egito e fizeram uma trilha pelo Monte Sinai, onde assistiram a um inesquecível nascer do sol. Decidiram, depois disso, prosseguir com o esporte. Até hoje, passados 13 anos desde o início dos treinamentos, eles correm juntos.
Ludovina e Marcos gostam de aliar a atividade física a viagens. O próximo compromisso é a 1ª Maratona Sesc de Pelotas, no domingo (15), na qual estão inscritos para cumprir, respectivamente, 21 e 42 quilômetros, ou seja, meia maratona e maratona. Na quase totalidade das vezes, fazem os trajetos em parceria. Se as provas são de distâncias diferentes — exigindo, portanto, planejamento e execução distintos —, o primeiro a cruzar a linha de chegada espera pelo parceiro.
A saúde e o prazer são o que motiva ambos a seguirem com a prática.
— É uma liberdade. Não consigo me imaginar sem correr — conta Ludovina.
Marcos resume:
— É uma cachaça!
Na terceira idade, praticar corrida não se trata, simplesmente, de calçar os tênis e sair por aí, como incentivam muitos adeptos do esporte. Submeter-se a avaliações cardiovascular e ortopédica antes de começar é fundamental. Ludovina e Marcos, que se tornaram corredores bem antes dos 60 anos e já adentraram essa faixa etária com a prática bem estabelecida na rotina, passam por exames médicos periódicos para conferir se está tudo bem.
O primeiro passo, de acordo com o médico do esporte Gabriel Lopes Amorim, segundo diretor científico da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, é fazer um teste de esforço para verificar a saúde cardiológica e detectar eventuais sinais de alerta.
— Diria que o maior risco é da pessoa que não corre. O sedentarismo é o maior fator de risco para infarto. Mas o exercício pode desencadear dor torácica (angina) ou até mesmo um infarto pelo esforço — afirma Amorim, também professor e coordenador da residência em Medicina do Esporte na Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Um ponto muito importante a se prestar atenção são doenças crônicas. Rodrigo Bodanese, cardiologista do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), destaca que, pela idade, esse grupo populacional já apresenta mais comorbidades.
— Estatisticamente, há uma prevalência de hipertensão e diabetes muito maior. Esses pacientes geralmente têm um risco cardiovascular maior ou já tiveram algum evento cardíaco, como infarto ou colocação de stent. Tem que se fazer uma avaliação cardiovascular bem minuciosa e individualizada de acordo com o histórico — indica Bodanese, acrescentando que, dependendo do caso, o especialista orientará sobre os limites de esforço que devem ser obedecidos durante a corrida.
Amorim destaca que comorbidades não são um impeditivo para a prática de corrida.
— Hipertensão e diabetes não comprometem. Não são um empecilho. Pelo contrário, deveriam ser motivação — diz o médico do esporte.
Na sequência, após a avaliação cardiológica, recomenda-se avaliar as condições das articulações e da mobilidade. Uma artrose (desgaste da articulação), por exemplo, pode tornar necessário o reforço muscular — que é essencial, na verdade, para todos os corredores, independentemente da idade. A sarcopenia (diminuição da massa muscular), característica dos idosos, também exige a prática de exercício resistido (com carga), como musculação ou funcional. A corrida e o treino de força podem ser iniciados ao mesmo tempo, mas, em algumas situações, o ideal é começar o treino de força antes, em uma fase preparatória.
— A sarcopenia atrapalha para começar uma atividade física. A pessoa tem menos capacidade aeróbica e força muscular. Mas, uma vez que ela inicie, vai, pouco a pouco, melhorando — explica Amorim.
Bodanese considera a corrida um conjunto de benefícios:
— É um exercício aeróbico que ajuda a melhorar praticamente todos os fatores de risco para doenças cardíacas: controle de pressão arterial, controle de colesterol e triglicerídeos, melhora do diabetes, redução do sobrepeso. Esse combo melhora a saúde cardiovascular como um todo.
Para quem pensa que velhice não combina com corrida, muito menos as de longas distâncias, Amorim garante que a idade não impede a prática — nem mesmo o cumprimento de uma maratona.
— É seguro. Correr é saudável. Os limites são individuais. O treinamento é que vai determiná-los — fala o médico do esporte.
Para começar
- Faça avaliações do coração e dos aspectos musculoesqueléticos. Clínico geral, cardiologista, ortopedista e médico do esporte podem orientá-lo.
- Corrida requer progressão lenta. Respeite os seus limites para avançar pouco a pouco.
- Tenha a orientação e o acompanhamento de um educador físico. Compartilhe com ele suas sensações ao correr (dores, desconforto, respiração).
- Programe-se para fazer revisões médicas anuais ou de acordo com a periodicidade indicada pelo profissional de saúde.