A Olimpíada foi maravilhosa, talvez com poucos recordes mundiais, mas cumpriu sua missão desportiva, política e de confraternização em uma das cidades mais sensacionais do planeta. O que fez falta definitivamente? Simples: um "rei" ou uma "rainha" dos Jogos.
Não foi nesta edição que tivemos um novo Michael Phelps ou Usain Bolt. Por mais que Simone Biles seja fenômeno, ela já ganhou mais. O próprio basquete norte-americano com os astros da NBA foi vítima de um erro absurdo de não ter seus jogos em Paris na primeira fase, não podendo colocar LeBron James no estrelato que merece. Teddy Riner é o todo-poderoso do judô e da França, mas também é novidade velha. Não há um atleta-símbolo desta Olimpíada, um super-homem ou uma super-mulher. Se isto faz falta, a história que cobre daqui a um tempo.
Só uma gaúcha e um gaúcho subiram ao pódio em Paris
Sinal amarelo, quase vermelho para o Rio Grande do Sul. Por mais que tenhamos orgulho dos representantes de nossos clubes ganhando medalhas, está faltando gente da terra, nascidos no Estado, nos pódios olímpicos.
De todos os medalhados brasileiros, apenas a surfista medalha de prata Tatiana Weston Webb e o judoca Daniel Cargnin, na equipe do judô são gaúchos de nascimento. Tati, aliás, só nasceu e viveu poucas semanas em Porto Alegre. O que chama mais a atenção é que o Brasil medalhou em dois esportes coletivos — futebol feminino e vôlei feminino —, não havendo nenhum sul-riograndense em mais de 20 atletas destas duas modalidades.
A família do vôlei que já pensa em Los Angeles
A jogadora de vôlei Júlia Bergman, 23 anos, foi uma das que não conteve as lágrimas ao comemorar a medalha de bronze em Paris. Nascida na Alemanha, mas com mãe paranaense, ela deixou de estudar física na Europa e aproveitou a cidadania brasileira para se dedicar ao seu sonho, o vôlei. O irmão Lukas, três anos mais novo, foi desclassificado com a seleção masculina nas quartas de final. O jogador ficou em Paris para torcer pela irmã junto com os pais que saíram de Toledo para acompanharem "as crianças".
A família Bergmann tem uma certeza: vai comprar passagens e preparar estadia em Los Angeles em 2028, pois os dois filhos mostram grande futuro nas equipes de José Roberto Guimarães e Bernardinho, respectivamente. Pela idade dos dois jogadores, aliás, é bom já cogitar preços para Brisbane , na Austrália em 2032.
Medalha não é tudo, mas é muito
As 20 medalhas do Brasil na Olimpíada não frustram demais e nem devem ser festejadas efusivamente. Mantivemos um número entre o desempenho recorde de Tóquio e a boa jornada do Rio de Janeiro. Há pontos altamente positivos como a ginástica e o judô, onde houve conquista por equipes, além de pódios individuais.
De outra parte, a natação e o atletismo preocupam, embora as duas medalhas nesta modalidade. Houve poucas finais disputadas por brasileiros, quebrando uma tradição. Muita gente em Paris sequer chegou a sua melhor marca pessoal. Algo parecido aconteceu na vitoriosa vela brasileira que sequer beliscou conquistas. Se estivemos à beira de uma medalha no tênis de mesa, no tiro com arco e até na luta olímpica, era esperado mais do que o solitário bronze do boxe com Bia Ferreira.
Saímos de Paris com fome de ouro, algo que os esportes coletivos nos deram no Rio de Janeiro e em Tóquio. Aí, cobre-se do futebol masculino que não teve competência para defender o bicampeonato olímpico. As mulheres, embora a frustração da derrota para os Estados Unidos, tiveram uma prata surpreendente e foram derrotadas pela maior potência do mundo nesta modalidade. O balanço é bom, não mais do que isto. Há que se trabalhar muito para chegarmos melhores em Los Angeles.
Uma necessidade em cidades olímpicas
Los Angeles 2028 já começa com uma dificuldade: não tem um metrô como Paris ou Londres. Os Jogos Olímpicos de 2024 se notabilizaram, como os de 2012, pela facilidade de deslocamentos entre as sedes dos Jogos, hotéis, centros de imprensa ou pontos turísticos. Os próprios meios de transporte oficiais oiferecidos pela organização da Olimpíada se mostraram menos ágeis do que o transporte público sobre trilhos. Deveria ser obrigatório: sedes de Olimpíadas precisam ter metrôs.
A pergunta que não precisou ser feita a Zé Roberto Guimarães
Toda a Olimpíada é a mesma coisa. Terminado o torneio de vôlei feminino, se vai ao técnico José Roberto Guimarães e se pergunta do futuro, se ele continua à frente da seleção. Isto valeu quando ganhou duas medalhas de ouro, quando foi eliminado nas quartas de final ou quando as brasileiras ficaram com a prata em Tóquio. Desta vez ninguém perguntou e ele não precisou dizer que "sim", seguirá seu trabalho.
A medalha de bronze conquistada em Paris mostra o acerto sinalizado em Tóquio para a fórmula de renovação na equipe, onde aparecem jovens, algumas mais experientes e sempre uma veterana, neste ano Thaísa. Para o ciclo de Los Angeles segue a receita. resta saber os nomes de novatas que estarão no time e aquela que dará o toque de maturidade mais forte.
Antes da próxima Olimpíada, porém, há um desafio muito grande, o campeonato mundial. As mulheres brasileiras nunca foram campeãs do mundo, nem o treinador. O próximo certame será no ano que vem, ainda sem local definido e com muita chance de ser no Brasil. Não existe oportunidade melhor.
Palcos sagrados e agora olímpicos
A volta do público lotando arenas e estádios será a grande marca da Olimpíada de 2024. Ver novamente a vibração nas arquibancadas, as procissões de torcedores nas ruas, o metrô lotado de camisetas e bandeiras dos mais variados países em meio a um ambiente de sorrisos e paz é o legado parisiense para a história dos Jogos. Dentre os locais de competição vale destaque para o complexo de Tênis de Roland Garros sediando torneios dignos de Grand Slam e com uma alfluência de público fantástica, bem como o Stade de France, notável em sua modernidade aos 26 anos e com lotação plena em todos os dias da competição de atletismo, sendo num palco que, agora pode se dizer, já viveu todos os maiores eventos esportivos do planeta.
Paris, medalha de ouro
A Cidade Luz conseguiu contornar os obstáculos para organizar um evento do tamanho dos Jogos Olímpicos. Por mais que alguns parisienses se mostrassem contrários à Olimpíada antes de seu início, o desenrolar das competições criou a agitação positiva. Lugares históricos e tesouros turísticos se incorporaram à paisagem desportiva. Não houve tumultos e nem ameaças à segurança. Todos se mostram felizes ao final. Allez Paris!!!
Rússia, medalha de lata
Pela estupidez da guerra por ela provocada, teve seu comitê olímpico alijado da Olimpíada. Do ponto de vista desportivo, é uma potência que fica fora e que faz falta nos Jogos.