Não sou muito dado a sentimentalismos em viagens de trabalho, embora me considere um sentimental inveterado. Chegar a Paris para cobrir minha oitava Olimpíada é um privilégio profissional enorme, tão grande quanto a responsabilidade presente neste processo. São 28 anos neste mágico ambiente do esporte internacional, onde a disputa entre atletas de mais de 200 países significa medalhas, festa, frustrações, ações políticas, muita torcida e muito, mas muito trabalho.
Em função disto tudo, me deparei com um domingo na capital francesa em que as obrigações radiofônicas me poupam um pouco, por causa da transmissão do jogo do Grêmio, e o microfone e os aparelhos de transmissão são trocados pelo computador e a importantíssima missão de escrever para leitores e internautas. Até aí, tudo normal.
Isto pode ser feito no quarto do hotel, numa sala de imprensa, num restaurante. Só que estamos em Paris e o cenário é uma calçada com pequenas mesas de um restaurante que está fechado por ser domingo. Eles não tiram as mesas...Não deve ser costume roubarem mesas das calçadas por aqui quando o estabelecimento está fechado.
É domingo, meia-tarde, há sol, por vezes apagado por nuvens, um ventinho absolutamente encantador, tal qual a visão de um boulevard onde passam carros, alguns da polícia com sirenes estridentes demais. Há pessoas transitando de lado a lado, plátanos plantados num largo passeio central e uma despreocupação completa com o que quer que seja. Melhor que isto? Só um bom chimarrão, o primeiro em Paris neste período que promete dias bem menos tranquilos daqui para a frente.
Pois é com este primeiro mate olímpico que surgem recordações das outras sete Olimpíadas, projeções desta edição e uma gama de temas na mente que se resumem em "Estou tomando chimarrão em Paris esperando uma Olimpíada". Tudo aquilo que é cantado em prosa e verso sobre a magia mística da bebida sagrada do gaúcho me invadiu como poucas vezes. Entendi mais do que nunca o que é "levar o RS junto", lema da RBS e de nossa incursão nos Jogos Olímpicos. Quando começarem as disputas, poucos serão os mates. Não há tempo. Este primeiro, porém, bastou para me colocar no prumo. Acendam esta tocha de uma vez...