Desde que Miguel Ángel Ramírez começou a balançar pelos resultados ruins e desempenho insuficiente de seu time, começaram cobranças do torcedor e pedidos de troca. Entre os mais lembrados pela torcida dois nomes saltaram à frente, o de Abel Braga e o de Lisca. Abelão não voltará três meses depois de ter saído por sua filosofia de jogo ser diferente do que quer a diretoria. Já o técnico do América-MG passou a ser o mais pedido quando Ramírez efetivamente caiu.
É inegável a qualidade de Lisca como orientador tático, estrategista, motivador e conhecedor de futebol. No próprio Inter, onde surgiu muito jovem comandando com extrema competência times das categorias de base, ele foi tratado como um prodígio. Desde o início, porém, sempre os muitos elogios estiveram acompanhados por um alerta, o da dificuldade de administrar seu temperamento. O cúmulo chegou já na maturidade da carreira, quando se popularizou o apelido de Lisca Doido para o bem e para o mal. Tudo o que o Inter precisa é da sapiência de Lisca e o que não necessita é de um doido no comando seu time.
No momento em que aceitar retornar ao clube em que foi treinador da equipe principal no final da traumatizante campanha de 2016, Luiz Carlos Lima de Lorenzi pode e deve continuar sendo Lisca, mas não mais o "doido". Naquela oportunidade, a situação era irreversível e nada do fracasso pode ser atribuído ao último treinador da temporada. A próxima oportunidade será para estabilizar e construir, não para salvar.
Não cabe no comando colorado uma figura com rompantes de intensidade exagerada contra arbitragens, adversários ou até companheiros de comissão técnica como aconteceu no Paraná. Isto não ajuda numa gestão de vestiário, algo que nitidamente faltou no Beira-Rio desde a saída de Abel Braga.
Para trabalhar bem no Inter ou em qualquer clube de mesma grandeza no Brasil, Lisca não pode perder sua essência de alguém que bota muita emoção com sua sabedoria estratégica. Ele, entretanto, só será completo quando equilibrar suas atitudes, seja numa hora de indignação como até na hora de comemorar uma conquista, como aconteceu no América-MG. Lá, após a classificação para a semifinal da Copa do Brasil do ano passado, o técnico, sem máscara, simplesmente se misturou numa aglomeração festiva de torcedores que estavam na porta do estádio.
O ideal para um técnico é sempre ser analisado pelo que é decidido, executado e mostrado no campo, não por reações que passam para o folclore e não entram nas salas de troféus dos clubes.