De um modo geral, D'Alessandro deixou de ser a peça fundamental que foi durante praticamente uma década no time do Inter. Sua saída da equipe titular por obra de Eduardo Coudet não se tratou de nenhum sacrilégio futebolístico. Embora com técnica exuberante e boa condição física para alguém de sua idade, não se pode construir um esquema tático que preveja intensidade plena baseada num jogador com o perfil atual do argentino. Há, porém, momentos especiais e excepcionais. É isto que o Inter vive dramaticamente, e por esta razão deve apelar para seu maior ídolo dos últimos 10 anos.
D'Alessandro já marcou data para deixar o Inter. Em 31 de dezembro, segundo ele próprio, se encerra sua história no clube. A garantia de viver intensamente o que resta desta história, porém, faz com que Abel Braga ou quem represente à beira do campo necessite colocar o jogador para enfrentar o Boca Juniors, apelando para, além da questão técnica, um sentimento de rivalidade argentina dos tempos de River Plate, e, acima de tudo, de coloradismo de quem tem uma íntima relação com clube e torcida.
Além disso tudo, a Libertadores pode dar ao meia uma satisfação muito grande, como se fosse uma recompensa: a de enfrentar seu clube do coração quando garoto nas quartas de final da competição.
Exato: D'Alessandro, quando menino, era torcedor do Racing de Avellaneda, clube de preferência de seu pai e que nesta terça-feira (1) eliminou o Flamengo, se habilitando a enfrentar o vencedor do confronto entre Inter e Boca Juniors.
Por certo, cria-se uma motivação diferente para o jogador, que sabe de toda a dificuldade para superar o Boca num momento em que o Inter tem problemas que vão do baixo desempenho técnico, passam por suspensões, como a de Víctor Cuesta, e desembocam nos casos de covid-19 que incluem o treinador Abel e o importantíssimo volante Edenilson.
Sem soluções de qualidade no meio-campo durante praticamente toda a temporada, até agora era admissível buscar opções entre os jovens, embora elas não tenham se mostrado tão eficientes, principalmente após a lesão grave de Boschilia.
D'Alessandro tem de começar a partida diante do Boca Juniors e jogar até quando aguentar, ainda que sua energia total dure menos de 45 minutos. Para ele, não adianta provar que pode correr. Ele tem de fazer o time jogar, seja na bola ou no espírito, como se acredita que ele pode ainda fazer numa excepcionalidade. Se o Inter depende de uma solução mágica, ela passa pelo gringo.