O assunto que mais agitou o ambiente do Gre-Nal que decidiu o segundo turno do Gauchão não esteve ligado aos tradicionais mistérios protagonizados pelos treinadores, pelo menos não diretamente. Quatro horas antes do jogo, surgiu a notícia da obtenção de um efeito suspensivo para D'Alessandro, punido pela Justiça Desportiva pelas atitudes contra o presidente da Federação Gaúcha de Futebol, Luciano Hocsman, no clássico anterior disputado em Caxias do Sul. O argentino, portanto, estava liberado para jogar.
Logo após a divulgação da decisão, vieram reações indignadas de parte do Grêmio. Os representantes tricolores alegaram vinculação do auditor que concedeu o efeito suspensivo, Arthur Zurita, com o Inter, lembrando que, "no passado, ele já se dera por impedido de julgar processos envolvendo o clube".
Imagens das redes sociais de Zurita foram reproduzidas por grupos de torcedores gremistas. Quase que imediatamente a isto, foi dito que uma medida liminar estava sendo providenciada para cassar a decisão favorável ao Inter.
Mantendo postura inconformada, o que se ouvia pelo lado do Grêmio nos microfones era que "o clube se sentia atingido e tomaria as medidas cabíveis", algo que se mostrava ameaçador e ganhava ressonância em entrevistas. A palavra "liminar", porém, não foi usada nas manifestações oficiais. Nem poderia.
O que aconteceu foi apenas a criação de um ambiente que pudesse colocar dúvidas no Inter quanto à possibilidade de ter invalidada a decisão do auditor do TJD. Sabedores de que não haveria sucesso na cassação do efeito suspensivo, os advogados gremistas nem se mobilizaram tecnicamente e deixaram que o ambiente externo criasse incerteza e tensão.
Do lado do Inter, houve tranquilidade no corpo jurídico, mesmo que uma série de telefonemas tenham sido feitos para os advogados colorados até a bola rolar, perguntando sobre o caso. Eles sempre tiveram certeza de que D'Alessandro, desde que foi concedido o efeito suspensivo, nunca esteve ameaçado de participar do Gre-Nal. Ainda assim, houve temores até a hora do jogo, mas o jogador foi confirmado no banco de reservas. Coube unicamente a Eduardo Coudet decidir, ao longo da partida, não aproveitá-lo.
A "liminar que não houve" passou a ser mais um componente da rica história do Gre-Nal. Assim se deu quando o Inter engessou Fabiano Souza sem que ele estivesse machucado para aparecer "milagrosamente" na decisão do Gauchão de 1997. Também nos anos 1990, um time reserva do Grêmio foi divulgado por Felipão no vestiário e desmentido minutos depois com a entrada dos titulares.
Mais recentemente, em 2013, num clássico em Caxias do Sul pelo Gauchão teve os gremistas usando um time misto, mas até a última hora os colorados garantiam que os titulares tricolores subiriam a Serra numa van para jogarem, o que não aconteceu.
Que venham outros clássicos, com mais histórias...