No Gauchão de maior número de incidências da história moderna, a grande incógnita passou a ser o local dos jogos restantes da competição. Sem poder jogar em Porto Alegre e com outras cidades fechando as portas para o futebol, não foi estranho quando o Grêmio propôs mandar seus compromissos em Eldorado do Sul, em seu Centro de Treinamentos, cujas condições de gramado e instalações são totalmente adequadas, especialmente para partidas sem público. Confirmado o confronto contra o Ypiranga para o local às margens do Guaíba, estará se solucionando um problema e, ao mesmo tempo, se prestando uma homenagem involuntária, mas extremamente justa a um dos maiores gremistas de todos os tempos: Hélio Dourado.
O ex-presidente e patrono tricolor, Hélio Volkmer Dourado era um médico com espírito de engenheiro. Ele faleceu em 2017 e teria completado 90 anos em março passado. Dedicou a maior parte de sua vida ao Grêmio, seja como torcedor, sócio, conselheiro, vice-presidente, presidente e patrono. Era um líder nato, de temperamento fortíssimo e um gremismo insuperável. Como dirigente, sua obra física se encerra exatamente como responsável pela implantação do CT em Eldorado do Sul no início dos anos 2000. Sua empreitada ganhou forma a partir de campanhas feitas aos mesmos moldes daquelas que ele, como presidente, capitaneou para concluir o velho Estádio Olímpico em 1980. Dourado ia ao encontro da torcida pedir colaborações como material de construção ou equipamentos. O estágio atual do Centro de Treinamentos usado pelas categorias de base que passou a ser orgulho do patrono é apenas a sequência e o aprimoramento do projeto que ganhou o impulso definitivo com o homem que hoje dá nome às instalações.
Construindo o Olímpico, Hélio Dourado teve tempo e espírito empreendedor para montar o time do Grêmio redentor do Gauchão de 1977 que quebrou o jejum de oito anos. Já com o estádio concluído, investiu em mais uma montagem de time que levou o clube ao primeiro título brasileiro. Naqueles tempos de início da década de 1980, sob seu comando, houve a busca em Bento Gonçalves de um jovem ponteiro que se tornaria o maior nome da história gremista dentro das quatro linhas e que hoje brilha na casamata: Renato Portaluppi.
O homem que batiza o local onde o Grêmio deverá enfrentar o Ypiranga foi capaz de um dos gestos mais dignos vistos nos quase 117 anos do clube. Em 2002, numa situação delicada da instituição, ele, sozinho, contrariou uma proposta aceita pelos integrantes do Conselho Consultivo para a colocação de Flávio Obino como presidente. Os motivos eram convicções políticas internas do clube e não algo pessoal. Dourado queria uma eleição que não aconteceu. Foi voto vencido. Um ano e meio depois, num momento ainda mais dramático, ele estende a mão a Obino que havia sido abandonado pelos apoiadores anteriores, e assume a causa inglória de um departamento de futebol que via o time despencar rumo ao rebaixamento. Hélio Dourado expôs sua imagem vencedora numa empreitada perdida e desgastante por puro amor pelo clube.
Enfim, jogar uma partida de campeonato em Eldorado do Sul com o time principal do Grêmio, comandado por Renato, passa a ser uma como homenagear os 90 anos que teria aquele que dá nome ao CT tricolor, o grande Hélio Dourado.