O Grêmio perdeu na madrugada desta terça-feira um dos mais obstinados torcedores e dirigentes da história do clube. Vítima de um infarto, Hélio Dourado morreu aos 87 anos em Porto Alegre.
Em homenagem ao patrono gremista, Zero Hora reuniu oito histórias curiosas sobre um dos responsáveis pela ampliação do Olímpico, a quebra da hegemonia colorada em 1977 e o primeiro título nacional em 1981 no Morumbi. E elas começam com:
O dia em que...
... nasceu a filha mais nova
"Uma das histórias mais bonitas foi em 1977, quando nasceu a filha mais nova. Foi no Gre-Nal de 1977 no Beira-Rio, o Grêmio venceu por dois a zero, gols de Tadeu Ricci e Tarciso. O Hélio Dourado estava no jogo, só foi conhecê-la à noite . Foi batizada como Fernanda Vitória . No domingo seguinte, o Grêmio quebrou a hegemonia do Inter e sagrou-se campeão, gol do André Catimba."
Sérgio Boaz, repórter da Rádio Gaúcha
... Olímpico Monumental foi inaugurado
"Hélio Dourado inaugurou o Olímpico Monumental e tinha brigado com toda a imprensa do Rio Grande do Sul. O presidente se negava a dar entrevista e os homens de imprensa se negavam a entrevistá-lo. Na época, seu vice de futebol era Rafael Bandeira dos Santos. No jogo de inauguração, os dois passearam pelo campo. Apesar Rafael Bandeira dos Santos foi entrevistado. O presidente, não."
Pedro Ernesto Denardin, narrador da Rádio Gaúcha e colunista de ZH
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... contratou Telê Santana
"O que mais me marcou era a coragem, a capacidade que ele tinha de decidir as coisas na hora. A contratação de Telê Santana foi um marco no período de vitórias do Grêmio. Ele mudou a história das conquistas do adversário na década de 1970. O doutor Hélio fez todo o empenho para trazer o Telê. No primeiro ano, não tivemos sucesso. Mas ponderei a ele a necessidade de permanência do Telê. E o Grêmio acabou conquistando o Gauchão de 1977. Depois, também com o doutor Hélio, conquistamos o primeiro título brasileiro. Era uma figura excepcional, lamento muito a perda dele."
Fábio Koff, ex-presidente do Grêmio
... Grêmio virou "Grêmio tesão"
"Há uma história de Hélio Dourado que contei e recontei e contei outra vez durante os mais de 15 anos em que fui editor de Esportes da Zero Hora. Virou meio que folclore na editoria. Quando chegava algum repórter novo, o Jones Lopes da Silva perguntava em voz alta, para que todos ouvissem:
– Já contou a ele a história do Hélio Dourado?
Então eu contava.
O ano era 1977, o lugar era o vestiário do Estádio Olímpico. Telê Santana, técnico do Grêmio, dava preleção antes de um Gre-Nal, que, como todos os Gre-Nais, seria decisivo. De repente, Hélio Dourado, o presidente do clube, irrompeu naquele ambiente de intimidade dos profissionais. Todos silenciaram, olhando para ele. Telê Santana parou de falar e perguntou:
– O senhor quer falar alguma coisa, doutor Hélio?
E Hélio Dourado, rascante:
– Quero!
– Pois não – disse Telê, afastando-se para lhe dar espaço.
Hélio Dourado fitou gravemente os jogadores do Grêmio, que o fitaram de volta, em grande expectativa.
Hélio Dourado tomou fôlego.
Esperou cinco segundos. Dez. Ninguém falava. Ninguém respirava.
Aí ele gritou:
– GRÊMIO TESÃO!"
David Coimbra, colunista de Zero Hora
... pisou na Arena
Em setembro de 2014, eu e meu colega Luís Henrique Benfica fomos entrevistar Hélio Dourado. Chegamos no começo da tarde ao seu apartamento na Rua Dona Laura, em Porto Alegre. A porta já estava aberta. Ele, com sorriso grande, nos aguardava vestido todo de azul e com incrível bom humor:
– Veio um batalhão só para falar comigo, mereço isso? – brincou ao ver também o fotógrafo.
Um firme, quase dolorido aperto de mão, me fez pensar que ali estava um homem forte, mesmo aos 84 anos na época. A ideia do bate papo era contar um pouco mais da grandiosa história de vida do dirigente no clube, iniciada em 1968. E, claro, falar sobre um assunto que o tirava do sério: a Arena.
– Não piso na Arena. Pelo menos enquanto ela não for realmente do Grêmio. O que fizeram com o Olímpico foi uma estupidez, uma tristeza sem fim – berrou o ex-presidente, campeão brasileiro com Grêmio em 1981.
Dourado era assim, incisivo. Gostava de uma discussão pegada – teve inúmeras com jogadores e imprensa. Mostrou-se talentoso e decidido desde jovem, quando brilhou também como médico-cirurgião.
– Sempre tive mãos firmes – disse, estendendo os braços para mostrar.
A campanha do cimento, nos anos 1980, para construção do anel superior do Estádio Olímpico nunca sairá da cabeça do torcedor. Foi uma de suas grandes sacadas e realizações. Por isso, Dourado e Olímpico se misturam. Por isso, a paixão do ex-presidente pelo estádio. Por isso, a birra com a Arena.
Dourado pisou na Arena – por insistência de amigos – mesmo ainda que o negócio não tenha sido efetivado. Mas será sempre o Estádio Olímpico que estará em seu coração."
Sérgio Villar, editor de Esportes da Zero Hora
... foi a Montevidéu contratar Hugo de León
"No início de 1981, em um lance marcado por ousadia, Dourado foi a Montevidéu contratar Hugo de León. Entrou na sala do presidente do Nacional-URU com uma carta de garantia de um banco gaúcho certo de que ela bastaria para fechar negócio. Ao ver o documento, o dirigente o rasgou, exigindo pagamento em dinheiro. Dourado engoliu a humilhação em silêncio e, nas horas seguintes, após contatos por telefone com Porto Alegre, conseguiu que o valor fosse transferido a uma agência uruguaia. Sacou o dinheiro, levou-o para o hotel e, no dia seguinte, voltou à sede do Nacional. Desta vez, em condição de superioridade.
– O senhor disse que nossa carta não era dinheiro? Pois, agora, conte! – e jogou uma mala com o valor sobre a mesa do atônito dirigente.
Essa história ele contou a mim e ao colega Sérgio Villar, em uma entrevista que fizemos na casa do ex-presidente."
Luís Henrique Benfica, repórter de Zero Hora e Rádio Gaúcha
... rejeitou a aclamação de Flávio Obino
"Hélio Dourado foi o único integrante do Conselho Consultivo a rejeitar a aclamação de Flávio Obino como presidente para 2003/2004. Os outros ou propuseram, ou apoiaram. Um ano e meio depois, na ausência de quem pegasse uma missão inglória, foi Dourado quem estendeu a mão a Obino e foi vice de futebol na campanha que levou o Grêmio ao rebaixamento. Com todas suas glórias, "pegou na podre" em nome de seu gremismo, enquanto os demais sumiram."
José Alberto Andrade, repórter da Rádio Gaúcha
... tomou uísque com André Catimba
Não haveria a conquista da América e do Mundo sem ele. O fim da hegemonia do Inter na década de 1970 passa muito por Hélio Dourado, e não só pela reforma monumental do Olímpico ou pelo título brasileiro de 1981 mas, sobretudo, pelo Gauchão de 1977. Hélio Dourado preparou o Grêmio para suas maiores glórias - este é o seu maior legado no futebol. Além do olhar visionário na gestão, ainda tomava leves e controladas doses de uísque com André Catimba na sala da presidência. "Melhor nosso centroavante tomar aqui comigo, eu de olho nele, do que por aí, sabe-se lá onde", dizia. Raros dirigentes são bons no gabinete e no tão particular dialeto do vestiário. Dourado era um deles. O que o Grêmio é hoje, e também o que será no futuro, passa por um homem que levou a vitória até no sobrenome".
Diogo Olivier, colunista de Zero Hora
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