Com a satisfação nítida de quem mata saudades, o "Capitão América" visitou Porto Alegre. O treinador Adilson Batista esteve na capital gaúcha nos últimos dias para preparar e divulgar um workshop que acontecerá em junho. Além disso, aproveitou a ocasião para ir ao estádio e viu a vitória do Grêmio sobre o Rosario Central. Aproveitou também e participou de mais uma edição do programa Cardápio do Zé, no Gaúcha Sports Bar.
Na Arena, onde já havia estado na derrota gremista para o Libertad, ficou satisfeito com o que viu na última quarta-feira (10). Embora não permaneça na cidade para o Gre-Nal que começa a decidir o Gauchão no próximo domingo (14), Adilson Batista prevê muito equilíbrio, valorizando o crescimento gremista na Libertadores e a boa fase colorada, especialmente no setor de ataque:
— Gostei do Grêmio contra o Rosario. Foi excepcional. Teve dinâmica, velocidade e intensidade. Era importante vencer e fez por merecer. Agora, é o Gre-Nal. Sempre há dificuldades e equilíbrio. O Inter também vem jogando bem e passou a ter um poderio muito forte com a chegada do Guerrero. Ele é um jogador muito interessante, um artilheiro. A defesa do Grêmio precisa ter muito cuidado, porque tem também o Nico (López), que é muito dinâmico. Vai ser um duelo muito legal e equilibrado.
Assista ao vídeo:
O mais recente trabalho de Adilson Batista como treinador foi no América-MG durante o Brasileirão do ano passado. Contratado para tirar o time da zona de rebaixamento, acabou saindo depois de 19 jogos, mas antes da queda do clube. Havia três anos que ele não dirigia nenhum clube, mas garante que não esteve parado:
— Fiz cursos, tenho a licença PRO da CBF, frequentei a Universidade do Futebol e visitei vários clubes na Europa. Até a área de gestão eu cursei. A gente tem que se aperfeiçoar. Daqui a pouco, encaixa um trabalho novo.
O nome de Adilson foi comentado em Minas Gerais como possível substituto de Levir Culpi no Atético-MG. Ele não confirmou sondagens e lamentou a demissão do colega. Há, entretanto, sua disposição de trabalhar imediatamente e até um sonho para o futuro: o retorno ao Grêmio.
– Um dia, a gente volta. Estive no clube em 2003 e 2004, quando a realidade era diferente, e conseguimos escapar do rebaixamento. Hoje, estou muito mais maduro — relatou.
É nítida a afeição ao Tricolor demonstrada pelo capitão do time campeão da América em 1995, mesmo que tenha jogado dois anos antes no Inter, levado por Paulo Roberto Falcão. Adilson, aliás, jogou nos dois grandes clubes do Rio Grande do Sul e nos dois maiores de Minas Gerais — no Cruzeiro e no Atlético-MG, também atuou como treinador. Jogando em Minas, foi companheiro de time duas vezes de Renato Portaluppi.
— Sou amigo do Renato, jogamos no Cruzeiro e no Atlético. Torço por ele e pelo clube, estive aqui nas decisões da Copa do Brasil e da Libertadores e parabenizo sempre pelo trabalho. São mais de dois anos de ótimo trabalho, em que ganhou títulos e fez ser gostoso ver o Grêmio jogar — destacou.
O ex-zagueiro se emocionou na hora de falar de seus inspiradores como técnico. Luiz Felipe Scolari é considerado por ele como um "pai", capaz de transformar numa família o grupo do Grêmio nos anos de 1995 e 1996. As lágrimas, no entanto, surgem em seus olhos quando fala num outro gaúcho: Ênio Andrade.
— Ele era gênio. O intervalo dele nos jogos era fantástico. Sabia o que ia acontecer. Ele mostrava no quadro, no vestiário, usando tampinhas, tudo o que a gente precisava fazer. E as coisas aconteciam — conta. — Ele estava à frente da maioria dos técnicos com todos os pré-requisitos de um grande comandante. Nós, jovens, ficávamos impressionados. Além disso, era também como um pai. Acompanhei-o até o fim de sua vida.
Lembrando a carreira como jogador, Adilson cita sua passagem em 1990 pela Seleção Brasileira, na época treinada por Paulo Roberto Falcão:
— Foi feita uma renovação muito grande, em que uma gurizada foi chamada pelo Falcão. Eram eu, Cafu, Leonardo, Mazinho Oliveira, Márcio Santos, Mauro Silva. Muitos vieram a ser campeões na Copa de 1994.
Então jogador do Cruzeiro, Adilson foi vitimado por duas fraturas na mesma perna num espaço de menos de dois anos. Isto atrapalhou muito uma sequência na Seleção, mas não impediu que ele se destacasse como multicampeão pelo Grêmio em 1995 e 1996, levantasse a Copa da Ásia pelo Jubilo Iwata no Japão em 1999 ou vencesse o título mundial pelo Corinthians, em 2000.
Durante uma hora, Adilson Batista falou de outros temas, como a qualidade da zaga do Grêmio com Geromel e Kannemann, mas evitando comparações. Ele também analisou a Seleção Brasileira que julga em boas mão com Tite e elogiou seu ex-companheiro Sylvinho, recentemente designado para comandar a seleção olímpica. Recordando as passagens pelo Grêmio, lembrou histórias engraçadas de Jardel e contou da decisão que, como treinador, teve que tomar quando tirou definitivamente Danrlei do gol.
Confira a íntegra da conversa de Adilson Batista com José Alberto Andrade no Cardápio do Zé.