Obstinada, positiva e colorada, muito colorada. Sem fugir de suas características, Eduarda Luizelli, a Duda, gerente de futebol feminino do Inter, esteve no Cardápio do Zé deste mês de março no Gaúcha Sports Bar. Durante uma hora, falou sobre sua intensa relação com o futebol desde a infância — o que a coloca como principal figura do esporte entre as mulheres no Rio Grande do Sul.
Além de jogadora colorada e da seleção brasileira, ela também foi empresária, educadora e hoje é gestora. Nestes mais de trinta anos de proximidade com a bola, o que não faltaram foram desafios. Duda lembra que sua paixão pelo futebol, e pelo Inter, vem do final dos anos de 1970, quando ainda era criança.
— Eu era vizinha do Valdomiro, um dos maiores ídolos da história do Inter. Era um privilégio conviver com ele. Aí veio o gosto pela bola. O amor pelo Inter era imposição do pai — destaca.
Na época, eram raríssimas as meninas que jogavam futebol. Mas a pequena Eduarda se tornava exceção por dois motivos: adorava jogar e era muito bem aceita pelos meninos em função da qualidade técnica.
— Os guris iam na minha casa me buscar para jogar. Eu sempre estava entre os primeiros jogadores a serem escolhidos nos jogos na pracinha, lá no (bairro) Jardim Isabel.
Este pioneirismo de infância em um mundo extremamente masculino fez Duda entrar no Inter muito cedo. Aos 14 anos, fez sua estreia no time principal, em um jogo de Campeonato Brasileiro.
Já corria a década de 1980 quando o futebol feminino teve seu primeiro impulso no Brasil. Em Porto Alegre, o Grêmio tinha Marianita, da seleção brasileira, enquanto o Inter apresentava a dupla Duda e Bel — que, depois, jogou por uma temporada com a camisa tricolor.
A gestora do futebol feminino colorado conta que mantém até hoje a amizade com Bel, com quem jogou no Inter e na seleção. À época, a colega de time chegou a posar para a revista Playboy, sendo considerada símbolo sexual do futebol brasileiro.
— A Bel hoje mora em Florianópolis, mas, quando nos encontramos, ainda jogamos futebol. Ela teve uma passagem pelo Grêmio. Mas, no único Gre-Nal em que nos enfrentamos, levei a melhor e goleamos por 9 a 0 — brinca a ex-jogadora.
Titular e destaque do Inter, Duda casou-se e foi jogar na Europa. Vestiu as camisas do Milan e do Verona, da Itália, nos anos 1990 e teve contato com uma estrutura diferente, que dava ao futebol feminino o que só era visto no Brasil para os homens. Em sua volta ao país, formada em educação física, jogou por mais alguns anos e passou a atuar como empreendedora, criando uma escolinha de futebol para meninas — que funciona até hoje.
A evolução na aceitação das mulheres dentro e fora dos campos é tratada com muita tranquilidade por Duda. Desde criança, sempre foi torcedora de arquibancada, acompanhando o pai, Seu Eduardo. Depois, conta que começou a ir aos jogos sozinha, passando por cima de eventuais atos de preconceito.
Na lembrança estão xingamentos que as mulheres ouviam pelo simples fato de estarem no estádio, algo que mudou radicalmente e que é provado, segundo ela, pelos números: aproximadamente 25% do quadro social do Inter é formado por mulheres, atualmente.
— Ainda há machismo, mas a mulher passou a ocupar espaços que eram só dos homens. E isso vai evoluir ainda mais com o futebol feminino crescendo do jeito que está — projeta.
Paralelo ao trabalho na escolinha, Duda não se afastou do Inter. Depois de se aposentar dos gramados, teve participação no crescimento do departamento de futebol feminino, em que ocupa a gestão na administração de Marcelo Medeiros.
— Temos meninas surgidas na escolinha, ou na base do Inter, espalhadas pelo mundo. Já estamos buscando jogadoras no exterior. No futuro, o clube vai negociar jogadoras e ganhar dinheiro com transferências, como acontece com os homens.
Duda se baseia no crescimento da modalidade e também nas exigências de Fifa, Conmebol e CBF para que os clubes mantenham ativos departamentos para mulheres. Ela cita que, no Brasil, já há clubes que investem muito, como Corinthians ou Palmeiras.
O Inter está no Brasileirão da Série A1 na temporada 2019. Estreou fora de casa no último domingo (17), com goleada por 5 a 0 sobre o Vitória-PE. Neste sábado (23) o time faz seu segundo jogo, contra o São Francisco-BA, às 17 horas, no Beira-Rio.
Entre os relatos de Duda Luizelli, ela também destaca como foi jogar um Gre-Nal enquanto estava grávida, lembra do dia em que ia jogar no Maracanã lotado e o jogo foi cancelado, se anima com a expectativa de o Inter chegar à Copa Libertadores feminina e dá força para o time masculino, acreditando no trabalho do técnico Odair Hellmann.
Confira a conversa de Duda Luizelli com José Alberto Andrade no Cardápio do Zé.
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