Na adolescência, além de tentar a carreira de jogador de futebol, eu treinava vôlei e tive um grande mestre chamado Francisco Linhares o qual jamais vou esquecer pelos ensinamentos. “Chiquinho”, como era carinhosamente chamado pelos alunos da Escola General Osório, onde eu estudava e treinava vôlei, me ensinou algo que levo para a vida. Se está errado, mude. Mesmo que a mudança seja absurda, como fez Ana, uma ex-colega que atacava com o punho cerrado. Isso mesmo! Ela dava soco na bola, ao invés de fazer o normal, com a palma da mão.
O professor “Chiquinho” chamou Ana no meio do treino e disse: “Não bata na bola com a mão fechada. Você precisa bater com a mão aberta”. Então, minha colega abriu a mão e atacou com a parte de cima da mão. Todos riram. Mas Chiquinho a elogiou. “Isso, Ana! Agora experimente com a palma da mão”. Ana virou a mão e, do jeito certo, se tornou uma das melhores atacantes do time da escola. Que baita lição. Aprendi naquele momento que se algo que estou fazendo está dando errado é preciso mudar completamente. Ao menos tentar.
Coudet estava sendo muito criticado por não encontrar soluções para o time. Foi amarrado por Roger Machado nos dois duelos contra o Juventude e nada fez para mudar depois disso. Vimos mais do mesmo no começo da Sul-Americana. Sem soluções diferentes nos segundos tempos dos jogos, sempre trocando o “6 pelo meia-dúzia”.
Contra o Bahia, após um começo equilibrado, com poucas chances criadas, Coudet mudou e fez o que eu espero de um técnico do Inter. Ele teve a leitura do jogo e percebeu que faltava velocidade ao time. Tirou Lucca e colocou Wesley. Pela primeira vez, nessa passagem pelo Inter, ele escalou o time num 4-3-3 puro, com Wanderson na esquerda, Borré pelo meio e Wesley na ponta-direita. Apesar de ter sofrido o gol no melhor momento do Inter no jogo, o time voltou a jogar bem e criou várias situações de gol. Rogério Ceni foi surpreendido e qualquer resultado que não fosse a vitória do Inter seria injusto.
Coudet tem as convicções dele, mas elas não podem ser maiores que as características dos jogadores que ele tem no elenco. A convicção no esquema não levou o Inter a lugar nenhum. Não ganhamos nada. Não vou dizer que o melhor esquema para o time é o 4-3-3, como foi no segundo tempo. Talvez seja eventual ou estratégia para o segundo tempo dos jogos.
Além de deixar o Beira-Rio feliz com a vitória, saí de lá contente com Eduardo Coudet, pois desta vez ele fez como Ana: “Bateu de mão aberta”.