A abertura da Olimpíada disse muito sobre muitas coisas, mas pouco sobre esporte. Inovar não deveria ser um fim, mas um meio. Fiquei com a impressão de que a vontade de ser diferente levou a um tropeço conceitual: importância demais à forma, deixando o conteúdo em segundo plano.
Entendo que uma competição esportiva inspirada pela pluralidade e pela diversidade cultural legitime o mosaico de cenários e de manifestos apresentados em Paris. Mas senti falta de algo necessário naquele momento, embora muitas vezes visto com preconceito: a tradição.
Nada mais obsoleto do que fazer diferente apenas para ser diferente
O desfile das delegações em barcos foi uma ideia arriscada. Que deu errado. A marcha dos atletas, caminhando, era um dos momentos mais simbólicos da cerimônia de abertura. Em Paris, os países e suas bandeiras ficaram separados, estanques, desunidos. Um de cada vez, mas nunca todos juntos, como deveria ser.
Pela TV, por onde a maioria das pessoas assistiu à cerimônia, a união das cenas ao vivo com imagens pré-gravadas caiu no exagero. Londres fez isso com maestria, brincando com o salto de paraquedas da rainha. Mas Paris errou a mão. Muito do que se viu poderia estar acontecendo em qualquer dia e em qualquer hora. Foi um desperdício. As Olimpíadas só acontecem de quatro em quatro anos.
Senti falta do estádio lotado, da confraternização e do conforto que a previsibilidade oferece.
A tal ponto que um dos assuntos mais falados depois da festa foi a semelhança de uma das tantas performances com a Santa Ceia, apesar das alegações de que a inspiração era outra. Para que isso? Duvido de que os organizadores não soubessem exatamente o que estavam fazendo.
Insisto na absoluta legitimidade de todas as mensagens e provocações artísticas ali feitas. Mas, para o meu gosto, deveriam ser menos preponderantes em uma abertura de um evento que tem o esporte como elemento central.
Não há nada errado em repetir, em fazer igual, em respeitar a essência, se isso tem significado e história.
Nada mais obsoleto do que fazer diferente apenas para ser diferente.