Há um novo elemento na eleição mais importante do planeta: o sangue.
A violência em processos de disputa política é tão antiga quanto a humanidade. Só nos Estados Unidos, quatro presidentes foram assassinados e pelo menos outros seis foram vítimas de atentados, antes, durante ou depois das posses. Porém, até hoje, as imagens desses episódios tinham pouca nitidez.
Trump uniu, instintivamente, dois dos elementos mais poderosos do storytelling, a ciência que ensina a organizar narrativas com um ou mais objetivos definidos: a vulnerabilidade que humaniza e a força que mitifica
A câmera que gravou a cabeça de John Kennedy sendo dilacerada por um tiro, em 1963, estava distante e não tinha a definição dos equipamentos de hoje.
Em 1981, Ronald Reagan foi atingido por um dos seis disparos efetuados contra ele. Imediatamente, Reagan foi encoberto por agentes de segurança. Em um piscar de olhos, estava no carro, sendo levado ao hospital. Nas cenas disponíveis, não se enxerga a ferida, apenas a confusão.
No Brasil, a facada desferida em Jair Bolsonaro é uma imagem impactante e decisiva, mas o sangue não é um elemento preponderante.
Com Trump, foi diferente. A imagem do rosto do ex-presidente e agora candidato, manchado pelo líquido vermelho e vivo, percorreu o planeta em segundos.
Foi a vitória do instinto sobre o reflexo. O reflexo fez com que, na hora, Trump se jogasse no chão, uma atitude natural para quem se vê ferido e ameaçado na dimensão daquele momento. Mas logo depois, o instinto assumiu o controle.
Reerguido, Trump mostrou força, tudo o que seu adversário parece não ter. Trump uniu, instintivamente, dois dos elementos mais poderosos do storytelling, a ciência que ensina a organizar narrativas com um ou mais objetivos definidos: a vulnerabilidade que humaniza e a força que mitifica.
O atentado a Trump marca uma mudança na comunicação política da mais sólida democracia do planeta. A nova estética do sangue nos oferece um cenário pautado pelas redes sociais e por sua capacidade de propagação imediata de mensagens cruas, reais e emocionais, criando uma sensação de proximidade e de protagonismo de quem as recebe. Não são ideias ou projetos: o sangue se transformou no elemento mais importante de uma eleição que impactará o futuro de todos nós.