Às mais de 6,5 mil ruas, às quase 600 fontes, aos 15 mil táxis, aos 2 mil cafés, às 302 estações de metrô, aos 40 mil objetos expostos no Louvre, à Torre Eiffel, ao Grand Palais, ao Moulin Rouge, aos croissants, aos macaroons, ao Zidane, ao túmulo do Napoleão, a tudo isso se juntaram mais de 11 mil atletas nesta sexta-feira (26), na Cerimônia de Abertura das Olimpíadas de Paris.
Para enfatizar a diversidade pontuada desde o início, atletas e ex-atletas de diversos países, de variadas características físicas, carregaram a Tocha Olímpica. Coube a um par de imigrantes negros nascidos em Guadalupe, o judoca Teddy Rinner e Marie-José Pérec, do atletismo, acenderem a pira olímpica no Jardim das Tulheiras, a honraria de dar ignição ao símbolo e aos Jogos.
Como se fosse uma ópera apresentada no Théâtre du Châtelet, por 6 km do Rio Sena desfilaram por quatro horas todas as cores, todos os credos, todas as línguas, em uma reconexão entre os povos.
Mas foi mais do que isso. Foi a mistura da França com o mundo. Do passado com o presente. Dos urbano com o clássico. Da ópera com o rock. Do rap com o dance.
Os ataques a trens de alta velocidade, realizados horas antes, não afetaram em nada o evento, apenas ajudaram para que a segurança fosse reforçada.
Em atos espalhados pelos pontos turísticos que margeiam o rio, a 33ª edição dos Jogos Olímpicos contou um pouco do que é a França, do que é Paris, do que são as Olimpíadas.
Cerimônia inédita
A primeira Cerimônia de Abertura da história fora de um estádio teve chuva constante, mas a água não foi suficiente para tirar seu brilho. Cerca de 300 mil pessoas acompanharam o evento.
As 206 delegações foram separadas em embarcações e de pouco em pouco um novo ato com uma apresentação surgia para evitar a monotonia — cada barco levou cerca de 40 minutos para fazer seu percurso.
Lady Gaga foi a primeira grande atração a se apresentar, representando a música dos cabarés parisienses e a dança can-can. Dançarinas do famoso Moulin Rouge também se apresentaram.
Cada país trouxe elementos de sua cultura nos uniformes. Os árabes, com suas vestimentas típicas, o pessoal de Bermudas, de bermuda, claro, e os brasileiros de chinelo de dedos. Uma famosa marca desembolsou R$ 5 milhões para calçar os pés dos atletas brasileiros.
O país foi o 29º a desfilar e teve um barco só para si. Isaquias Queiroz, da canoagem, e Raquel Cristina Kochhann, do rúgbi 7, foram os porta-bandeiras de uma das embarcações mais alegras da parada.
Cultura francesa
Entre os momentos mais marcantes, esteve a passagem da delegação da Argélia, ex-colônia francesa. Flores foram atiradas ao Sena para homenagear as afogados argelinos mortos pela polícia naquelas mesmas águas em 1961, quando o país lutava por sua independência.
Nas cercanias do Louvre, emergiram personagens femininas de grandes obras expostas no museu, em uma subversão da ordem. Elas deixaram de ser vistas pelos turistas para observarem o maior evento esportivo do planeta.
Entre as diversas apresentações, destaque para a mezzo-soprano Axelle Saint Cirel. Do topo do Grand Palais sua voz ecoou contando A Marselhesa, o hino francês.
Encerramento
O tradicional revezamento da tocha olímpica foi peculiar. Na verdade, não foi bem um revezamento. Após Jamel Debbouze, ator franco-marroquino famoso pelos filmes de Asterix e Obelix, passá-la para Zidane, que deu seguimento com um trio de crianças, o personagem Arno, de Assassin's Creed, game de origem francesa, deu prosseguimento para fazer a tocha chegar ao seu destino.
Ele perambulou pelos tetos dos prédios de Paris, por dentro de prédios icônicos, e constatou, no Louvre, o "roubo" da Monalisa. Logo a achou em posse dos Minions, criados por um diretor de animação francês. Passou pelas telas de cinema, desfilou na passarela.
Em um mundo em guerra, Sofiane Pamart, no piano, e a cantora Juliette Armanet interpretaram Imagine, de John Lennon: "Imagine all the people. Livin' life in peace".
Um cavalo de metal flanou pelo Sena, e imagens mostraram cenas históricas dos Jogos Olímpicos. A bandeira Olímpica foi hasteada (de cabeça para baixo). Depois, foi a vez dos discursos oficiais.
— Muito obrigado por nos receberem. A chama olímpica fará Paris ainda maior. Toda nossa gratidão aos poderes públicos e ao COL (o Comitê Olímpico Local). Vamos todos juntos viver os Jogos Olímpicos mais urbanos, mais inclusivos. Vamos celebrar o espírito olímpico vivendo em paz — destacou Thomas Bach, presidente do COI.
Tony Estanguet, presidente do Comitê Organizador Local, o presidente Emanuel Macron, também discursaram. Como de costume, o premiê do país-sede declarou o evento aberto. Florent Manaudou e Mélina Robert-Michon, porta-bandeiras franceses, fizeram o juramento olímpico.
Então ressurgiu Zidane para receber a tocha das mãos de Arno. Que passou para Rafael Nadal, o rei do saibro de Roland Garros. Às costas do espanhol, a Torre Eiffel se apagou. Para, em todo o seu esplendor, se reiluminar em raios de luz infinitos, em luzes piscantes. Um show em forma de metal.
Depois do show, Nadal, de barco, cruzou o Sena ao lado de Carl Lewis, Serena Williams e Nadia Comaneci. O quarteto passou para a ex-tenista Amelie Mauresmo. Dali para o ex-jogador de basquete Tony Parker. Depois foi a vez de três atletas paralímpicos conduzirem o símbolo. Ali, eles já estavam no pátio do Louvre.
A eles se juntou Michaël Guigou, ex-jogador de handebol. Deles, mais uma dezena de atletas deram pequenos passos com a tocha até o ex-ciclista Charles Coste, em cadeiras de rodas, compartilhar seu fogo com o judoca Teddy Rinner e a atleta Marie-José Pérec.
O sagrado fogo dos deuses gregos elevou um balão que subiu tão alto quanto a Torre Eiffel. Para encerrar, na Dama de Ferro, surgiu toda de branco a cantora canadense Céline Dion, que cantou Hymne A L'Amour, de Édith Piaf. "Nous aurons pour nous l'éternitééééééééééééé" (Nós teremos a eternidade),
Paris é uma festa!