Na parte superior direita do site da CBF existe um link chamado “Canal de Ética”. Oito dias atrás, encaminhei por lá uma denúncia. Transcrevo, a seguir, o trecho final: “O que aconteceu ontem em São Paulo não pode ser considerado um erro. O árbitro e o VAR precisam responder pelo que fizeram. A CBF precisa dar uma resposta urgente e enérgica, sob pena de desvalorizar o campeonato por ela organizado. É uma questão de justiça e de bom senso. Obrigado pela atenção”. Antes que os ânimos se acirrem, aviso: esse não é um texto sobre futebol. Desnecessário relembrar o escândalo que teve o Grêmio como vítima. E, no caso, não importa para qual time eu torço. Há questões mais importantes em jogo. Aliás, escrevo antes de a bola rolar no Maracanã. Para efeitos na minha argumentação, tanto faz o resultado.
Enquanto eu redigia a minha denúncia no site da CBF, já pensava em escrever essa coluna, torcendo para que minha expectativa não se confirmasse. Foi em vão. Mais de uma semana depois, nada aconteceu, além de uma etiqueta automática, na qual consta a palavra “recebida”. Tenho uma senha composta por 21 números, sinais e letras, fornecida pelo sistema, para acompanhar o andamento – ou, no caso, o não andamento – do processo. Consulto todos os dias. Até o momento em que escrevo esse texto, são 691.200 minutos de silêncio.
De uns tempos para cá, as letras ESG viraram moda no mundo das empresas e entidades. A sigla representa a necessidade de levar a sério as questões ambientais (environmental), sociais (social) e de governança (governance). Os manuais indicam que abrir um canal de ética pega bem. Então, milhares de organizações mundo afora incluíram links como o da CBF em seus sites. Algumas foram além, criando estruturas de suporte ágeis e transparentes. Outras, ficaram no blá-blá-blá do modismo. Nada mais frustrante do que falar e não ser ouvido. Sou um consumidor ativo de futebol. Pago a mensalidade do meu clube, tenho assinatura do Brasileirão na TV, além de, eventualmente, adquirir produtos vinculados ao esporte mais popular do país.
É compreensível que empresas menores tenham dificuldade em implementar todos esses mecanismos. Mas a CBF?
Se eu pudesse, chamaria o VAR, na esperança de que ele fosse indicar alguma irregularidade na conduta da entidade mais importante do futebol brasileiro em relação à minha denúncia. No contexto atual, porém, não me surpreenderia se a resposta à consulta fosse: “É um movimento natural. Segue o jogo”.