Somos movidos pelo sentido de urgência. Talvez seja um antigo mecanismo biológico para poupar energia e só usá-la quando realmente fosse necessário. É como se uma voz, de outras eras, nos aconselhasse: aprenda com o seu tetra-penta-hexa-tataravô neandertal: não desperdice agora o que vai precisar depois para sobreviver. Fazia sentido no tempo das cavernas, quando o alimento era escasso e os invernos mais ameaçadores. Hoje, temos roupas eficientes, agro pujante e casas aquecidas. Mas o mecanismo, apesar de parcialmente obsoleto, continua ali.
Mais uma vez, o Rio Grande do Sul chora com as chuvas. Vidas foram perdidas e famílias desabrigadas. Empresas sofrem com estradas interrompidas e ausências involuntárias de colaboradores. Os posts e as notícias inspiram uma onda de solidariedade. Autoridades se mobilizam, pessoas doam tempo e dinheiro, instituições organizam abrigos, alimentos e roupas. É belo e humano.
Isto posto, o convido a um exercício de futurologia.
Estamos no dia 14 de novembro de 2023. O dia amanheceu ensolarado. Os atingidos pelas enchentes já voltaram para suas casas e boa parte dos prejuízos está reparada. As estradas estão abertas, as escolas funcionando e as praças floridas em meio à primavera. O assunto “alagamentos” já não ocupa as capas dos sites e as manchetes dos telejornais. Você se lembra do que aconteceu dois meses atrás? Você se sentiu tocado? Ficou furioso porque o presidente não veio? Rezou? Doou? Talvez a urgência mais recente tenha exigido a sua atenção e os fatos de setembro já estejam meio nebulosos.
Hoje, 14 de novembro de 2023, é um dia ideal para agir. Não é preciso cobrar do governo ou sair correndo para doar cobertores e alimentos. Basta fazer o que está ao nosso alcance. Separar o lixo, desligar a luz quando sair, usar menos o carro, fechar a torneira e valorizar as empresas que realmente respeitam as pessoas e o meio ambiente. O próximo passo é convencer os outros. Não com arrogância e dedo em riste, mas com argumentos e com exemplo.
Para que, assim como nossos antepassados das cavernas, não sejamos movidos apenas pelo impulso das urgências imediatas e instantâneas. É para que elas sejam menores e menos frequentes que precisamos agir quando, aparentemente, está tudo bem. No caso das mudanças do clima, a urgência é real, embora não se manifeste permanentemente na nossa frente. Pelo menos por enquanto.