De uns tempos para cá, o tema 60+ ganhou espaço nas agendas públicas e privadas. Não é por acaso. Os dados do IBGE mostram que o Brasil e o Rio Grande do Sul envelheceram e continuarão caminhando nessa direção. Essa é uma boa notícia, se soubermos o que fazer com ela. A Associação Comercial de Porto Alegre e o Sebrae deram, nesta semana, um passo de extrema relevância. Na terça-feira foi lançado um projeto de mentoria, que vai aproximar jovens empreendedores de seus pares mais experientes. A ideia é ao mesmo tempo simples e genial: proporcionar uma conversa entre quem está começando e quem já percorreu muitos caminhos.
É só uma questão de tempo para que as empresas entendam que seus consumidores são e serão, cada vez mais, grisalhos
Para dar a largada na iniciativa, a presidente da Associação Comercial, Suzana Vellinho Englert, e o superintendente regional do Sebrae, André Godoy, escolheram dois embaixadores para a causa: Wilma Araujo Santos, a locomotiva da Junior Achievement no RS, e Jorge Gerdau Johannpeter, um dos empresários mais bem-sucedidos da América do Sul. Diante de uma plateia lotada, ambos compartilharam sabedoria e experiência durante um almoço no Palácio do Comércio. Destaco algumas ideias, entre tantas instigantes e úteis.
Wilma Araujo Santos, 90 anos, usou a transição entre dois verbos para explicar o seu processo de maturidade ativa: “Antes, era fazer. Agora, é ficar”. Ficar, para Wilma, significa saborear cada refeição, cada conversa, “cada campainha que toca, porque deve ser alguém da família ou uma amiga”. A felicidade está nas pequenas grandes coisas do agora, ensinou. Gerdau, 86 anos, deu a receita para manter o seu “índice de utilidade social” elevado. “Faço uma hora de exercício todos os dias, cuido da alimentação e trabalho muito para não ter tempo de envelhecer”, declarou.
O projeto de mentoria da Associação Comercial e do Sebrae vai começar com um grupo de 20 voluntários. E tem tudo para crescer e inspirar outras organizações. Mais do que uma ação humana e ética, há uma lógica de mercado na iniciativa. Os 60+ de hoje são diferentes do estereótipo construído tempos atrás. O mercado maduro é ativo, tem poder aquisitivo, votos, fome de experiências e, cada vez mais, sabe e gosta de usar tecnologia. É só uma questão de tempo para que as empresas entendam que seus consumidores são e serão, cada vez mais, grisalhos. E não precisam de favor e nem de pena, mas sim de produtos e serviços que atendam a suas necessidades e desejos. Todos ganham. É assim que se fazem os bons negócios.