Foi, até então, o maior ibope do Teledomingo, programa exibido durante mais de uma década pela RBSTV, depois do Fantástico. Os impressionantes 19 pontos superavam em muito a média histórica do horário. Há 25 anos, Xuxa Meneghel estava grávida da Sasha. Veio a Porto Alegre participar da chegada do Papai Noel, no Beira-Rio. Depois de intensas negociações, concordou em me conceder uma entrevista. A produção avisou: 15 minutos, no máximo. Descobri depois que essa é uma estratégia comum, usada por celebridades para se proteger. Estabelecem um tempo curto para a entrevista e, caso estejam cansadas ou a conversa não renda, usam o relógio para ir embora sem maiores desgastes.
Cheguei ao hotel, na avenida Lucas de Oliveira, depois das 22h. A Rainha dos Baixinhos apareceu perto das 23h, o horário marcado pela produção. Parecia que tinha acabado de acordar: energia máxima, sorriso no rosto. De fato, havia trabalhado o dia todo. Fomos recebidos pela sua empresária, Marlene Mattos, de quem eu e todo o Brasil tínhamos medo. A fama de durona não se confirmou. Marlene era pura simpatia. Na época, a polêmica ao redor de Xuxa era grande. Ser mãe solteira ainda era um tabu. Câmera ligada, ela foi logo dizendo: “Eu sou uma mulher independente, tenho condições financeiras de sustentar a minha filha”. Xuxa aconselhou suas fãs a só pensarem em ser mães quando tivessem maturidade, dinheiro e equilíbrio suficientes.
Antes de ir para o local da entrevista, passei nas lojas de suvenires do Inter e do Grêmio. Comprei uma roupinha tamanho recém– nascida em cada uma. “Como não sei para que time tua filha vai torcer, trouxe dos dois”, eu disse. Xuxa sorriu, agradeceu e guardou ambas as peças com absoluto carinho e respeito. “Mas eu sou colorada”, declarou.
Começamos a conversar e, quando me dei conta, já havia se passado meia hora. A entrevista terminou e continuamos ali, batendo papo, junto com a Marlene e a equipe da RBS. Lembro que voltei para casa pensando: “Ninguém vira ídolo e se mantém assim por acaso”. Mais de duas décadas depois, estou assistindo à série sobre Xuxa no Globoplay, dirigida por Pedro Bial. Penso em tantas pessoas muito famosas e no preço que lhes é cobrado por isso. A fama é uma cortina de fumaça, atrás da qual se escondem pressões gigantescas. Xuxa, na verdade, é bem mais do que sucesso e dinheiro. Xuxa é uma sobrevivente. Com sequelas, mas ainda viva.