De uns tempos para cá, passei a notar o aprofundamento de uma distorção perversa na relação entre os jovens e os mais maduros. Outro dia, assistindo a uma palestra em Porto Alegre, ouvi o guru de plantão vociferar no palco: “Nós, os grisalhos, precisamos, com urgência, aprender sobre tecnologia e inovação para podermos nos comunicar com os nossos netos”. Muita gente na plateia acenou com a cabeça, em sinal de concordância. Foi uma frase de efeito, mas profundamente infeliz e equivocada. Uma falsa certeza permeia as nossas interações sociais: os setentões, os oitentões e os noventões, de certa forma, ficaram para trás. Balela. Quando se interrompe o fluxo da conversa, do afeto e da aprendizagem entre as gerações, todos ficam para trás. Todos perdem.
Ainda mais no momento em que nossa pirâmide etária, antes sustentada pelos imberbes, se inverte de forma radical. Por isso, defendo uma tese que, orgulhosamente, transita na contramão do senso comum: se os mais velhos precisam se atualizar para poder conversar com as novas gerações, os mais jovens precisam aprender a conviver com quem tem mais idade. Ganhariam muito com isso, agora e depois, quando, tomara, terão acumulado mais tempo de estrada.
Defendo, convictamente, que as transformações das pessoas determinadas pelo tempo – todas normais e naturais – deveriam ser ensinadas nas escolas, no sentido prático de estabelecer pontes de compreensão. Mais ou menos assim. “Primeiro período de aula: matemática. Segundo: educação física. Terceiro: entenda os seus avós”. Antes, quando a convivência das famílias era mais ampla e próxima, essa conexão acontecia naturalmente. Hoje, não mais. Seja como for, o importante é pararmos imediatamente de repetir bobagens etaristas como se fossem pérolas de sabedoria.
Os 60+ não são devedores por terem chegado a essa idade. Em sociedades mais avançadas, é o contrário. Aprendi com meu amigo Martin Henkel, um dos maiores especialistas do Brasil em 60+, que duas ou três regrinhas já surtiriam um efeito espetacular. 1) Quando falar com alguém mais velho, fale devagar e tente usar um tom mais grave de voz. 2) Quando falar com alguém mais velho, olhe para essa pessoa, porque ela poderá ler seus lábios. 3) Se usar gírias ou expressões novas, explique-as naturalmente. Não é uma questão de caridade ou de generosidade, mas de ética, de inteligência e, acima de tudo, de justiça.