A jornalista Juliana Bublitz colabora com o colunista Tulio Milman, titular deste espaço
Com o vento gélido batendo no rosto, a uma temperatura de -25°C, Rosa Lía Barbieri, pesquisadora da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas, foi até o fim do mundo — literalmente — para cumprir uma missão humanitária. Ela é a primeira cientista brasileira a ocupar uma cadeira no conselho consultivo do Banco Mundial de Sementes de Svalbard, na Noruega.
O banco é uma caixa-forte escavada na rocha, em pleno Círculo Polar Ártico, mantido pelo governo norueguês, em parceria com o NordGen (Nordic Genetic Resource Center) e o Crop Trust (organização internacional sem fins lucrativos cuja missão é garantir a diversidade de culturas do mundo para a segurança alimentar). Lá, estão guardadas 1,5 milhão de amostras de sementes não transgênicas (com cerca de 500 unidades cada), de todas as regiões do planeta — inclusive do Rio Grande do Sul.
Desde 2020, a doutora em genética e biologia molecular é a representante das Américas no seleto grupo de 13 conselheiros do empreendimento, que Rosa conheceu pouco antes de estourar a pandemia. Na bagagem, levou 11 caixas de material para armazenagem, incluindo sementes crioulas de milho, cebola e abóbora produzidas em solo gaúcho.
— Dá orgulho participar dessa iniciativa, porque o banco de Svalbard é uma segurança para a humanidade, uma espécie de arca de Noé. Em caso de guerras, catástrofes ou ataques terroristas, sempre teremos réplicas de parte do que está guardado nos 165 bancos de germoplasma da Embrapa. Colegas da Síria, por exemplo, perderam tudo devido aos conflitos na região e, graças a Svalbard, puderam resgatar suas sementes para reproduzi-las — relata Rosa.
Agora, a cientista aguarda a próxima reunião presencial dos conselheiros, cujo trabalho é monitorar as ações do banco, com diretrizes alinhadas aos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. O encontro deve ocorrer no segundo semestre de 2022.