A jornalista Juliana Bublitz colabora com o colunista Tulio Milman, titular deste espaço
Não são apenas os professores estaduais que reclamam da falta de reposição salarial desde 2014. Com exceção de categorias específicas, como profissionais da segurança pública, a maioria dos servidores do Estado está sem reajuste há pelo menos sete anos. O problema — que amplifica as pressões sobre o governador Eduardo Leite às vésperas do último ano de mandato — é agravado pela escalada da inflação.
De acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), as perdas acumuladas por técnicos com Ensino Superior (engenheiros agrônomos, civis e elétricos, veterinários, arquitetos, etc) e especialistas em Saúde (médicos, enfermeiros, farmacêuticos, etc) se aproximam dos 50%.
O estudo foi encomendado pelo Sindicato dos Servidores de Nível Superior do RS (Sintergs), que conta com cinco mil filiados, a maioria ligada às secretarias da Saúde e da Agricultura. Além de apontar as perdas, o trabalho mostra que o custo de vida, nesse mesmo período, se multiplicou. Em sete anos, a cesta básica subiu 96,2%. A energia elétrica aumentou 91,4%, e o gás de cozinha, 120,5%.
— Metade do nosso poder de compra foi corroído. Com a inflação em dois dígitos, a situação piorou — diz o presidente do Sintergs, Antonio Augusto Medeiros.
Desde que assumiu a gestão, Leite conseguiu melhorar a situação das finanças do Estado, que voltaram a registrar superávit (resultados no azul), e vem anunciando uma série de investimentos importantes em diferentes áreas. Mas o equilíbrio das contas ainda é delicado. Há a perspectiva de perdas na arrecadação em 2022, devido a alterações na cobrança do ICMS, e o cenário de instabilidade política e econômica não dá sinais de trégua.
Sensível aos apelos, o governador dificilmente conseguirá postergar a negociação com o funcionalismo. O desafio será atender as reivindicações — justas, sem dúvida — sem inviabilizar o Estado.