O autor é um dos maiores advogados criminalistas do Rio Grande do Sul. Jader Marques escreveu “Elas” para, de acordo com ele mesmo “provocar, mexer, tocar, acarinhar e acolher mulheres que se libertam do medo, da insegurança, do preconceito, da violência”.
Pouco antes do Natal do ano passado, Jader decidiu enviar um exemplar de presente para cada detenta do presídio feminino Madre Pelletier, em Porto Alegre. Recebeu agora, na Semana da Mulher, um telefonema informando que os livros não seriam entregues e que poderia buscá-los na hora em que quisesse. O motivo: o conteúdo erótico não seria adequado às detentas.
Fui atrás de um exemplar para ver com meus olhos. São pequenas histórias acompanhadas de fotos artísticas sensuais de mulheres. Em geral, elas estão de lingerie. Não há nu frontal. Nádegas e seios são mostrados eventualmente.
Jader Marques não concorda com a decisão das autoridades penitenciárias:
— O livro não é sobre pornografia, mas sobre empoderamento feminino — explica.
— Cada texto fala sobre situações vividas pelas mulheres comuns que venceram as barreiras sociais — complementa.
Um trecho do primeiro capítulo:
“Sim, minhas palavras querem fazer amor contigo, traduzir o que sempre esteve em ti, mesmo depois que te tornaste uma mulher quase adormecida, mesmo depois das desistências tantas”.
Que cada um forme a sua opinião. A minha: que o rigor usado para barrar livros seja o mesmo para barrar todo o resto na porta das nossas cadeias.