Adorei um tutorial que ensinava a fazer zoom na tela do celular sem precisar abrir e fechar os dedos. É dessas coisas que a gente não procura nem pede. Estava eu ali, entre o fechamento da coluna e o Jornal Nacional, esperando o Bonner e passeando pelo TikTok quando, de repente, apareceu o vídeo de uma menina falando rápido, deixando tudo simples e convidativo. Imediatamente, celebrei mais essa conquista na minha luta teimosa para, quase aos 53 anos, não usar óculos.
Percorri o caminho indicado. Fui em "ajustes", cliquei ali, habilitei aqui, acionei acolá e pronto. Surgiu uma bolota na tela do meu celular, arrastada para um canto no qual não interferia no resto. Puro encantamento. Era mexer naquele controle mágico, que as letras cresciam. Mexer de novo, que as letras encolhiam.
Tudo corria bem até que, empolgado, fui mostrar a novidade à minha esposa. Contei a ela, com aquele tom de quem descobre algo útil, fácil e genial: "É só clicar aqui e.... tcharan... as letras aumentam". Eu era o macho alfa da tecnologia. Tão empolgado e seguro, que acelerei, tentando mostrar absoluto domínio do processo. Subitamente, travou tudo. No zoom máximo. Só o que eu via eram três letras gigantes. E a bolinha do comando havia desaparecido.
Sem perder a fleuma, para a Jaque não notar, comecei a dedilhar a tela, como se soubesse exatamente o que estava fazendo. Sqn. Primeiro devagar, depois mais rapidamente, até passar ao modo "histeria". A essa alturas minha esposa, carinhosamente, ria do meu frenesi.
Iria rir ainda mais.
Tanto sentei o dedo na tela que, não sei como, cheguei na agenda de telefones. E nela, sem querer, em meio a um surto compulsivo, fiz uma ligação para alguém que não conseguia ver quem era. Olhei as três letras garrafais piscando e me dei conta. Eu estava, quase 9 horas da noite, chamando o meu psi para um FaceTime. Algumas horas depois de eu ter me dado alta. Um ato falho sempre é involuntário, mas esse bateu o recorde mundial. Tentei de tudo. Desligar, ressetar, implorar a São Jobs. Inútil. Eu só ouvia o sinal da chamada sendo feita, sem poder interromper. Minha esposa às gargalhadas e eu pedindo silêncio: "Shhhhhh! Shhhhhh", com medo de que meu terapeuta atendesse. Meu último ato transloucado foi jogar o celular para baixo de uma almofada, na esperança de que o psi – acho que atendeu – pensasse que havia sido sem querer e que eu nem havia me dado conta.
Quando o silêncio voltou, levantei a almofada devagarinho, como se houvesse ali uma cascavel pronta para o bote. A tela continuava em zoom máximo, travada. Respirei, me acalmei e tive uma ideia. Fui ao computador e busquei no Google um outro tutorial. "Como destravar zoom iPhone". A resposta: "Toque duas vezes na tela usando três dedos". Tum, tum. Meu iPhone voltou ao normal.
Assim que a pandemia passar, vou procurar um oculista. Obrigado por mais essa, meu querido terapeuta.