Era a salvação milagrosa para os infectados pelo coronavírus. Tanto, que Jair Bolsonaro comemorou quando o governo conseguiu trazer da Índia 530 quilos de insumos para a sua fabricação. “Está dando certo em todo e qualquer lugar”, declarou o presidente, em março, sempre em tom seguro e desafiador. A cloroquina, não por coincidência, havia sido citada por Donald Trump como a luz no fim do túnel. Houve correria às farmácias e, por aqui, o Ministério da Saúde confiscou o produto para tentar distribuí-lo de uma forma organizada aos hospitais.
Desde o começo, alheios à euforia dos dois líderes políticos, os especialistas em saúde recomendavam cautela. Entre eles, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. Até então, não havia sido apresentado qualquer estudo sério indicando o seu uso e não faltavam alertas sobre falta de evidências e sobre o excesso de risco relacionado a efeitos colaterais.
Foi só no dia 17 de abril que Bolsonaro suavizou o discurso. A cloroquina não era mais a solução mágica, mas sim algo que talvez funcionasse. Depois disso, parou de falar no assunto. Mas a ciência, não. No final de abril, um estudo feito com 600 pacientes em Nova York mostrou, de acordo com o governador Andrew Cuomo, que o efeito remédio em pacientes graves de covid-19 se mostrou “nem positivo e nem negativo”.
Quanto ao estoque importando da Índia e celebrado como uma vitória diplomática do governo, se o prazo de validade permitir, poderá ser usado em pacientes com doenças como lúpus e malária, nas quais a sua eficiência, aí sim, é comprovada cientificamente.