O menor dos problemas ligados às manifestações do dia 15 de março é a convocação feita pelo presidente. O apoio ou não de Bolsonaro é um aspecto secundário de um fenômeno bem mais profundo e significativo: a erosão da credibilidade das instituições democráticas no Brasil. Jair Bolsonaro não é causa, mas sim consequência desse desgaste.
Não é culpa do presidente que o STF tenha virado um arremedo dele mesmo. Envolta em vaidades e disputas de ego, a suprema corte brasileira, em vez de apontar o dedo para Bolsonaro, poderia investir esforços em uma autocrítica que, embora tardia, ajudaria a devolver o respeito popular ao tribunal mais importante do Brasil.
O mesmo fenômeno se repete no Congresso. Clientelismo e interesses pessoais são os ácidos que corroem as bases do parlamento. Não é surpresa que o povo saia às ruas para protestar. Bolsonaro, espertamente, pegou carona do lado mais confortável da onda. E quanto mais o criticam por isso, mais ajudam a fazer de conta que ele está mesmo do outro lado.
Não existe democracia sem Justiça independente e sem um parlamento forte. Mas isso não depende de uma mensagem da WhatsApp disparada por um presidente destrambelhado. Se o STF e o Congresso ouvirem as ruas, não precisarão prestar tanta atenção nos devaneios do presidente. O Brasil agradeceria.