A australiana esteve em Porto Alegre durante a semana. Veio para trabalhar, ao lado do psiquiatra gaúcho Christian Kieling, em um relatório sobre depressão que está sendo elaborado por vinte dos maiores especialistas mundiais no assunto e que será publicado em 2020 pela The Lancet, uma das mais prestigiadas revistas médicas do mundo. Kieling é o único latino-americano membro da comissão e está coordenando os trabalhos a partir de Porto Alegre, contando com o apoio da também gaúcha Claudia Buchweitz, assistente editorial do projeto. Pouco depois de desembarcar no Salgado Filho, Helen respondeu a três perguntas da coluna.
Como os psiquiatras atualmente conceituam a depressão? Como diferenciá-la da tristeza normal?
Os psiquiatras veem a depressão como uma doença. É uma condição de saúde mental que causa sofrimento profundo, pode ter efeitos negativos na vida e nos relacionamentos de uma pessoa e está frequentemente ligada a problemas de saúde física. Tal como acontece com doenças de outros tipos, a depressão varia muito em sua gravidade e na maneira como afeta as pessoas. No entanto, é diferente da tristeza normal em sua persistência e gravidade ao longo do tempo.
Qual o impacto dos conflitos políticos e dos problemas econômicos nas taxas de depressão das populações?
As taxas populacionais de depressão diferem em todo o mundo. Os fatores que causam essas variações nem sempre são claros. No entanto, sabemos que a desvantagem social relativa é um importante fator de risco. Trauma e violência também são, interagindo frequentemente com os danos causados pelo uso de álcool e de outras substâncias. A violência nas famílias, incluindo os maus-tratos a crianças e a violência contra as mulheres, são precursores conhecidos da depressão, além de outras doenças mentais e físicas ao longo da vida. Por implicação, os conflitos políticos, os problemas econômicos e os deslocamentos de pessoas poderão aumentar as taxas de depressão nas populações.
Quais são os principais desafios para diminuir a lacuna de tratamento da depressão?
Aumentar a conscientização entre as pessoas e entre aqueles que tomam as decisões políticas acerca do fato de que a depressão é um problema significativo. A depressão, em geral, começa cedo. A menos que seu início seja reconhecido e a ajuda fornecida, o jovem pode abandonar a educação, ter problemas nos relacionamentos com sua família, amigos e sofrer muitas perdas que poderiam ser evitadas com intervenções efetivas e muitas vezes bastante simples. Para os idosos, o desafio geralmente é reconhecer o papel da depressão na persistência de doenças crônicas e integrar tratamento e atendimento da depressão ao restante dos serviços de saúde. Há considerável vergonha e estigma associados ao diagnóstico de depressão e discriminação associada a pessoas que vivem com depressão na sociedade e no trabalho. Geralmente esses são os motivos pelos quais as pessoas não procuram ajuda, mesmo quando disponível. Esses também costumam ser os motivos que justificam a necessidade de recursos e de serviços que possam fazer a diferença na vida das pessoas.