Já assisti a dezenas de clássicos, tanto no Beira-Rio quanto no Olímpico. Foi lá na Azenha, na década de 80, que aconteceu algo muito, muito engraçado. Engraçado hoje, porque na época foi bizarro. O Gre-Nal terminou zero a zero. Eu tinha ido com o Beto, um vizinho colorado.
Naqueles tempos, os clubes colocavam parte da torcida visitante embaixo da torcida local, que ficava no anel superior. De lá, em posição de vantagem tática, os donos da casa arremessavam horrores em direção aos adversários. Se você é mais sensível para aspectos escatológicos, mesmo que suaves, sugiro que vá agora para a crônica do David Coimbra, que é bem mais fino do que eu. Vou contar a seguir coisas que podem gerar algum desconforto — mas jamais maior do que o meu.
Preparado? Quando o jogo acabou, sugeri que esperássemos um pouco até que o estádio esvaziasse. Menos risco de confusão, pensei. Me pareceu uma baita ideia. Então ficamos ali, meio encolhidos, por uns cinco minutos, até que os clarões no concreto me deixaram confiante o suficiente para levantar.
Peguei minha almofadinha e dei um passo. Um. Foi quando recebi o impacto no rosto. Era um saco plástico. Cheio. De xixi. Na época, era uma prática comum. O saco plástico ia passando de pinto em pinto até ficar relativamente cheio. Então, o arremessador o jogava em direção à torcida adversária, fazendo o maior estrago possível. Daí veio a expressão: "Olha o mijo!". Tipo: "Sai rápido da frente!". No estádio, alguém berrava e quem conseguia escapava.
Naquele Gre-Nal, alguns fatores se uniram contra mim. O primeiro é que nossos vigias já tinham ido embora. Ninguém gritou. O segundo é que alguém, no anel superior, teve a mesma ideia: esperar um pouco até esvaziar, só que para ter mais clareza do alvo. O terceiro é que, com menos gente, eu virei o pato. Só eu, porque o Beto, que estava do meu lado, saiu sequinho. No Gre-Nal, até hoje, pontaria é tudo. Que os atacantes do meu time tenham sempre essa mesma precisão nas conclusões a gol.
Não vou entrar em detalhes sobre a sensação que se seguiu ao impacto do saco de xixi, em cheio, entre o meu pescoço e o queixo. Cheguei em casa e bati o meu recorde de tempo embaixo do chuveiro. Lavei tudo várias vezes. Hoje, essa lembrança só me provoca risos. E uma vontade quase incontrolável, mais de 35 anos depois, de tomar banho. De álcool.
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