Ser público ou privado não é uma questão de princípios, mas de fins. O único fator que realmente importa é o menos levado em conta: as pessoas. Quando uma família entra em um parque, por exemplo, tanto faz para ela se o dono é o governo, uma empresa, uma ONG ou a vó do Badanha. Se o espaço for organizado e limpo, tiver segurança e opções de lazer, será um lugar bom. A família irá aproveitar e voltar várias vezes. E poderá, caso queira, lanchar em um bar honesto, comprar um souvenir e se vincular uma marca inteligente o suficiente para conversar com o público sem poluir visualmente a paisagem.
A mesma matriz de pensamento vem sendo usada para debater a essência do nazismo. É de direita ou de esquerda? Tanto faz. O que importa é o nazismo, não seu rótulo. No Fórum da Liberdade, durante a semana, Olavo de Carvalho definiu socialismo como a concentração do poder político e econômico nas mesmas mãos. Mas não lembrou que isso aconteceu na Alemanha dos anos 30 e 40. Mas depois disse, em um momento de lucidez, que o regime de Hitler tinha aspectos tanto de esquerda quanto de direita.
Toda vez que um debate se polariza, emburrece. No Brasil, quem foge dessa imbecilidade fala sozinho. Na primeira linha ou na primeira frase alguém já aponta o dedo e grita: "Comunista!" ou "fascista!". Geralmente nós, os centristas, ouvimos ambas palavras ao mesmo tempo. O centro é o lugar mais difícil do mundo.
Privatização não é um debate relevante. O que importa é que funcione, com padrões legais e éticos definidos. Enquanto guerreamos usando rótulos como únicas armas, a essência se perde. Conceder serviços a empresas privadas não enfraquece o Estado. Ao contrário, o fortalece naquilo que ele deve fazer. Difícil explicar para quem, empacado no extremo, enxerga de um lado apenas inimigos e, do outro, uma parede.